sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Linha Direta Justiça dá aula de jornalismo investigativo e teledramaturgia

“Quem definirá, um dia, essa maldade obscura e inconsciente das coisas, que inspirou aos gregos a concepção indecisa da Fatalidade?” Esta frase do escritor Euclides da Cunha cabe como uma luva para tentarmos entender a sucessão de acontecimentos trágicos que ocorreram na vida do jornalista e dramaturgo, Nelson Rodrigues, depois do assassinato de seu irmão, Roberto, morto com um tiro em plena redação do jornal Crítica, do pai Mário Rodrigues.

“A Primeira tragédia de Nelson Rodrigues” título para o Linha Direta Justiça levado ao ar pela TV Globo na noite de 7 de junho de 2007, abordando o assassinato do desenhista e jornalista Roberto Rodrigues por Sylvia Seraphim Thibaú que no dia 26 de dezembro de 1929 o alvejou com um tiro de um revólver calibre 22.

A reconstituição de época foi capricihada e chegou a requintes como a presença de Jofre Rodrigues que interpretou ninguém menos que seu pai,Nelson Rodrigues, na fase adulta. Um dos netos de Mário Rodrigues Filho aparece como Nelson jovem. Outros detalhes que podemos destacar – a caracterização de Mário Filho, com suas sobrancelhas e cabelos avermelhados, e ainda a gagueira do implacável proprietário de Crítica, Mário Rodrigues.

O programa contou com os depoimentos de Nelson Rodrigues Filho, do jornalista e escritor Ruy Castro, autor da biografia definitiva de Nelson Rodrigues – O Anjo Pornográfico, do diretor de teatro Caco Coelho, que assumiu o posto deixado por Ruy Castro como organizador da obra não teatral de Nelson publicada pela Companhia das Letras, e também depoimentos de parentes de Sylvia Seraphim.

No momento do disparo fatal, na redação do jornal Crítica, além de Roberto, estava seu irmão mais novo, Nelson, na época com dezessete anos, o redator Carlos Cavalcanti, o auxiliar de redação, Juracy Drummond, e o investigador de policia, Garcia de Almeida, que inclusive foi quem desarmou Sylvia que se resignou a fazer este comentário – “Vim para matar Mário Rodrigues, matei o filho. Estou satisfeita”. Enquanto isso, Nelson tentava ajudar seu irmão que agonizava no chão.

Roberto agonizou durante três dias. Nelson ficou rezando pelo restabelecendo do irmão, mas a medicina em 1929 era muito precária. A bala se alojara na espinha de Roberto que morreria de falência múltipla dos órgãos por causa da Peritonite. A morte do irmão seria fator decisivo na obra do futuro dramaturgo Nelson Rodrigues.

No velório de Roberto, um ensandecido Mário Rodrigues não saía de perto do caixão e falava o tempo todo - “Aquela bala era para mim”. Mário Rodrigues morreria 77 dias depois do filho. Como disse Nelson Rodrigues numa crônica sobre o assassinato do irmão – “de paixão”. Com a perda de dois de seus membros, nunca mais a família Rodrigues seria a mesma. Bastou apenas um tiro deflagrado por Sylvia Seraphim.

O julgamento de Sylvia Seraphim aconteceu em 22 de agosto de 1930, tendo como advogado de defesa, Clóvis Dunshee de Abranges e na promotoria, Max Gomes de Paiva. Sylvia foi absolvida. Os Rodrigues sofreriam, depois das mortes de Roberto e de Mário, mais um duro golpe quando explodiu a revolução de 1930 e Getúlio Vargas ascendeu ao poder. Crítica era um dos jornais dos poucos jornais que faziam campanha contra Getúlio e por isso com a vitória de Vargas, o jornal foi empastelado, invadido e destruído por simpatizantes do novo presidente.

No entanto, o destino da assassina de Roberto Rodrigues também foi trágico. Depois do escândalo, Sylvia, separada do primeiro marido, se envolveu com outro homem. Ficou grávida. Da relação nasceu um menino. Sylvia foi abandonada. Desgostosa, tentou suicídio, mas foi salva e internada. No entanto teria sucesso em sua segunda tentativa.

Linha Direta Justiça, que estreou em 2003, o programa nestes mais de três anos exibiu histórias sobre casos famosos como a “Fera da Penha”; “Irmãos Naves”; ”Zuzu Angel”; “O Crime da Mala”; “Vladimir Herzog”; “Ângela Diniz”; “O desaparecimento do menino Carlinhos” entre tantos outros.

Humberto Oliveira
Perfume, a história de um assassino

Realizado em 2006, esta ótima co-produção alemã, francesa e espanhola, Perfume, a história de um assassino, dirigido por Tom Tykwer, baseado no livro homônimo de Patrick Suskind, acaba de ser lançado em dvd pela Paris Filmes. No elenco, destaque para Ben Whishaw que interpreta Jean Baptiste Grenouille, e ainda Dustin Hoffman (O Júri), como o perfumista, Giuseppe Baldini, e Alan Rickman (Duro de Matar).

O roteiro, escrito a seis mãos por Tykwer, Bernard Eichinger, também produtor do filme, e Andrew Birkin, é bastante fiel ao best-seller de Suskind. A trama se passa na França, século XVIII, onde Jean Baptiste Grenouille, logo ao nascer condena sua mãe a forca com o primeiro grito que dá. Em seguida o menino é levado para um orfanato, onde é quase sufocado em sua primeira noite entre os órfãos maiores.

Aos cinco anos, Jean Baptiste ainda não aprendeu a falar,mas sabe que um menino diferente dos outros. Com treze anos é vendido para o dono de um curtume. Mas a dona do orfanato não tem chance de gastar o dinheiro, pois acaba sendo degolada e roubada. A estimativa de vida no curtume é de cinco anos, mas Jean Baptista sobrevive. Um dia, ao ir para a cidade fazer uma entrega, passar a sentir odores diferentes dos habituais e conhece o perfumista Giuseppe Baldini, que decadente, há anos busca criar um novo perfume que traga de volta seus dias de glória. É então que seu destino se cruza com Grenouille, que graças ao seu talento, e em troca de ensinamentos, desenvolve fórmulas para o perfumista.

Baldini lhe ensina a antiga arte de extrair perfumes de óleos e ervas preciosas. Até que um dia ele sente um cheiro que o levará a um aterrorizante busca pelo perfume mais poderoso do mundo – feito da essência de jovens virgens que passa a assassinar, aterrorizando Paris. Ele, que é um gênio, se torna um monstro, um assassino que vive para detectar qualquer cheiro no planeta, mas ele próprio não exala nenhum odor. A busca de Jean Baptiste pelo perfume perfeito, e tão poderoso que poderia dominar todas as pessoas do mundo, o leva numa jornada de loucura, obsessão e morte.

Com um ótimo elenco de apoio e contando apenas com dois nomes conhecidos do grande público, Hoffman e Rickman, o diretor Tom Tykwer realizou um dos melhores filmes do ano passado, mas que passou quase despercebido nos cinemas (nunca foi exibido em Porto Velho) talvez graças à ambientação que retrata, de forma realista, uma Paris repleta de pessoas que se amontoam pelas ruas, das péssimas condições de higiene em que a população vivia, em pleno século XVIII.

O filme, inegavelmente tem qualidades - a caprichada reconstituição de época, ótimas interpretações, roteiro bem escrito, direção segura, que apesar da reverência ao livro, não apenas para exageros nas cenas de assassinato, quando tudo é mais sugerido que mostrado, assim como o erotismo que domina a história do começo ao fim, culminando na orgia no epílogo do filme.

Humberto Oliveira

Noel Rosa, multimídia setentão

Ninguém em tão pouco tempo de vida, produziu tanto e com tal talento. Poeta irretocável, melodista inspirado, cronista de costumes, sua obra é exemplo e inspiração para quem pretenda fazer música popular no Brasil.

Em comemoração aos seus 100 anos, a gravadora EMI, lançou em cd a coleção 10 polegadas, incluindo o disco onde estão as gravações do LP Polêmica gravado em 1956 com as interpretações de Roberto Paiva e Francisco Egídio. No LP estão Lenço no pescoço, Mocinho da Vila, Frankenstein da Vila, Conversa fiada e Terra de cego, de Wilson Batista, e Rapaz folgado, Palpite infeliz, Feitiço da Vila, e João Ninguém, de Noel, mas a última composição de Noel Rosa que encerrou a polêmica com o samba, Deixa de ser convencido.

Noel, o Poeta da Vila, é o título da cinebiografia do sambista Noel Rosa (1910 -1937) dirigida pelo cineasta Ricardo Van Steen, que levou cerca de dez anos para terminar o projeto do filme, mas a espera valeu a pena, o longa-metragem foi premiado na Mostra de Cinema de Tiradentes, Minas Gerais, que aconteceu em fevereiro deste ano.

O filme mostra o encontro de Noel, interpretado pelo ator Rafael Raposo, com o sambista Ismael Silva, que leva Noel para o morro onde é apresentado a turma do samba. Outras passagens importantes do filme, a polêmica musical entre Noel e Wilson Batista, e ainda o triângulo amoroso que Noel viveu com sua mulher, Lindaura, vivida pela atriz Lidiane Borges e sua grande paixão, a dançarina Ceci, interpretada por Camila Pitanga, para Ceci, Noel compôs o antológico Último desejo, e além dessa música, outras vinte e nove de Noel estão no filme, que teve orçamento de R$ 4,5 milhões. O diretor pretende lançar o filme em circuito nacional em maio, quando se comemora os 70 anos de morte do compositor.

Em 1991 foi lançado o songbook Noel, idealizado e produzido por Almir Chediak. O cd traz vinte e duas faixas como Três apitos, por Tom Jobim; Tarzan, o filho do alfaiate, com Djavan; Último desejo, interpretada por Gal Costa; Pela décima vez, na voz de Nelson Gonçalves. Chediak reuniu um time de primeira, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jards Macalé, Chico Buarque, Ney Matogrosso, João Nogueira, Os Cariocas entre outros.

A coleção Noel pela primeira vez (2000), projeto idealizado por Omar Abu Chahla Jubran e lançado pela Funarte. São 229 gravações em versões originais reunidas em sete cds duplos, encarte com 160 páginas, fotos, registros discográficos em ordem cronológica.

No tempo de Noel Rosa, de Henrique Foréis Domingues, mais conhecido por Almirante, a maior patente do rádio. Editora Francisco Alves lançou a primeira edição do livro em 1963.

Em 1990, para comemorar os oitenta anos de nascimento de Noel Rosa, o historiador João Máximo e o músico, Carlos Didier, lançam a biografia definitiva de Noel Rosa, uma biografia, que 17 anos depois serviria de base para o filme Noel, Poeta da Vila.

Esta biografia levou sete anos para ser escrita, opta por contar a história de Noel Rosa, sua época, sua gente e sua obra, numa narrativa linear, cronológica e jornalista num total de 46 capítulos, abrangendo desde o período de 1834, contando as origens da família do compositor indo até 1937, ano da morte de Noel Rosa.

Em 2003 a editora Nova Alexandria lança a coleção Jovens sem fronteiras. Um dos títulos desta coleção ficou a cargo de Guca Domenico que escreveu O Jovem Noel Rosa, enfocando a fase dos quinze aos vinte anos da vida do Poeta da Vila, um relato fascinante sobre as privações da infância, dos conflitos da vida escolar, dos percalços da adolescência das tragédias familiares, da amizade com Cartola, Braguinha e Almirante e da vontade de seguir a carreira musical.