quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Comentário Geral - 300 Discos importantes da Música Brasileira


Depois de uma espera de quase quatro anos adquiri em março de 2012, o livro "300 Discos importantes da Música Brasileira" lançado em 2008 pela editora Cabeça de Dinossauro. A obra, escrita por Charles Gavin; Carlos Calado, Tárik de Souza, Aethur Dapieve, contou com uma minuciosa pesquisa e muito trabalho dos autores, para chegar no formato de livro, com nada menos de 436 páginas, que imita a capa de um Long Play (para quem não conhece, o famoso LP ou disco de vinil). O Comentário Geral desta semana traz informações sobre esta obra preciosa, que ainda traz encartado dois CDs – Moreira da Silva e Elza Soares.

O livro, que traz textos e capas sobre 300 títulos escolhidos e fotos contou com patrocínio da Petrobras, e a organização do material ficou a cargo do músico Charles Gavin, (baterista dos Titãs). 300 Discos pode ser considerado um guia de consulta obrigatório para pesquisadores e amantes da música em geral. Com resenhas dos jornalistas Tárik de Souza, Carlos Calado e Arthur Dapieve, o projeto foi concebido com o objetivo de promover o resgate e a preservação da memória musical do país no campo popular.

Apesar das maravilhas que a obra resgata como discos de Noel Rosa, Dorival,Caymmi, Ary Barroso, Tom Jobim, Cartola, Ataulfo Alves, Chico Buarque, Dolores Duran, Caetano Veloso, Edu Lobo, Luiz Gonzaga, e tantos outros gênios da nossa música, porém nem tudo são flores. Pelo menos em 20% os autores derrapam feio ao incluir nulidades como Tati Quebra Barraco, Raimundos e outras ruindades,que jamais deveriam figurar entre os verdadeiros artistas citados acima. Mas,não é um pecado passivo de excomunhão. De forma alguma, pois os 80% trata de obras realmente importantes.

Mas deixando este detalhe de lado, é um prazer folhear um livro com tamanha qualidade gráfica – parece que estamos manuseando diretamente os LPs reproduzidos em suas mais 400 páginas com fotos e textos sobre a música popular gravada entre 1929 e 2007.  Infelizmente, a maioria dos discos relacionados no livro, está fora de catálogo. 





A comédia Meu passado me condena deveria fazer rir

Realmente, os últimos três anos têm sido das comédias brasileiras, pelo menos no cinema nunca se produziram tantas em tão pouco tempo (a não ser no período das Chanchadas), e tão ruins, apesar do sucesso de algumas destas produções. O gênero comédia romântica movimenta cifras milionárias ao redor do mundo e o motivo é óbvio: Está assim de gente querendo entrar na sala escura para se divertir, sem ter que decifrar nada. Para quem se enquadra neste time hoje, ontem ou sempre, Meu Passado Me Condena, o filme é produção nacional trilhando esse caminho, rodado dentro um navio e durante cerca de três semanas, mais ou menos o tempo da viagem dos protagonistas. Dirigido pela estreante Júlia Rezende e estrelado por Fábio Porchat e Miá Mello, o longa estreou semana passada, mas não traz nada que o público não tenha visto. O humor é o de sempre, ou seja, raso, pouco ou nada engraçado, repetitivo, e além das piadas sem graça, o filme é recheado de clichês.

Baseado no seriado homônimo, exibido no canal Multishow, a história traz os mesmo personagens, Fábio (Fábio Porchat) e Miá (Miá Mello). Eles se conheceram numa festa, se casaram rápido e partiram em lua de mel para a Itália, a bordo de um transatlântico. Mas o que fazer se entre os passageiros estão Beto, um ex-namorado fogoso (Alejandro Claveaux) e uma ex-paixão (Juliana Didone) dos tempos de escola? É o que os dois vão descobrir, uma vez que o risco de "flashback" é grande, pois o tal ex é rico e inteligente, ao contrário do noivo que é mão de vaca e confunde o cineasta Truffaut com chocolates. Para piorar o momento amorzinho da noiva, surge o Cabeça (Raphael Queiroga), amigo de infância daqueles invasivos e cheios de brincadeiras bobas, que costumam ter graça para quem participa, quem já viveu algo parecido ou se deixa levar por bobeiras que não envelhecem. E de fato, algumas fazem rir, mas somente se você forçar bastante, claro.

O filme até tem momentos de acerto, porém, são inegáveis os tropeços, oscilando entre fazer rir e, no máximo, arrancar um sorriso. E aqui a dupla, sem dúvida, funciona quando descamba no tiroteio verborrágico, reproduzindo as discussões sem freios de muitos casais. Pena é ver que pontos engraçados, como medo de navio, hipocondria ou Fábio tirando onda para cima do ex de Miá, tenham ido a pique, porque claramente renderiam mais. 

O roteiro (será que dá para chamar isso de roteiro?) escrito a seis mãos por Tati Bernardi, Leandro Muniz e Patrícia Corso, não passa mesmo de uma colcha de retalhos mal costurada. Tanta gente para escrever dá até para desconfiar. Ao terminar a sessão, a constatação do óbvio chega quase a irritar. Devo ressaltar que muitas pessoas gostaram e até gargalharam durante a projeção. Tive vontade de perguntar por que, no entanto, faltou coragem.
Meu Passado Me Condena parece um filme feito às pressas, desleixado e mal acabado. A trama, completamente sem foco, falha em estabelecer um ritmo, deixando a narrativa truncada. Porchat e Miá improvisam muito, e isso acaba prejudicando a graça e naturalidade. Por exemplo, todos os momentos íntimos são exagerados e forçados, e isso piora quando eles precisam interagir com outras pessoas. Daria para equilibrar melhor estas cenas de confusões e o climinha de romance.

Tudo bem que é o primeiro filme dirigido pela Júlia Rezende - autora do argumento de Meu passado me condena, e atuou como 2ª assistente de Direção do longa De pernas pro ar 2 - mas ela não ousou, a direção é frouxa e nada criativa, de originalidade a produção passou longe, como o diabo fugindo da cruz. Nem mesmo tiveram a capacidade de criar nomes para os personagens, que se chamam – Fábio e Miá. Pois é, os mesmos nomes dos atores protagonistas. Na verdade, a culpa não deve ser jogada nas costas da diretora, pois com atores (atores?) tão fora de controle, fica mesmo difícil entregar um filme, no mínimo, decente.

 Afinal, o "salva-vidas" mesmo é Porchat, que neste ano foi visto em outros dois filmes: Vai que Dá Certo (2.7 milhões de ingressos) e O Concurso (1.3 milhão de espectadores). Produzido pela veterana Mariza Leão (De Pernas pro Ar 2) e dirigido pela estreante (em longas) Julia Rezende, filha da produtora e criadora do seriado, Meu Passado Me Condena pode até causar náuseas nos mais exigentes, mas o tripulante que procura humor leve e descompromissado na sala escura pode embarcar sem medo de enjoo.




Quanto mais música brasileira, melhor

Lembrando João Bosco e Aldir Blanc

João é mineiro. Aldir, carioca da gema. A união do violonista e compositor com o letrista e cronista resultou em uma das maiores e melhores parcerias musicais brasileiras, de todos os tempos. Juntos, Bosco e Aldir são como fogo e pólvora e desta receita explosiva de musicalidade, inspiração, crítica social, ironia e criatividade nasceram belas e extraordinárias composições. Verdadeiras obras primas do nosso cancioneiro. Se eles tivessem composto apenas o samba Incompatibilidade de gênios, já seria o suficiente para inscrever seus nomes ao lado de feras como Noel Rosa, Ataulfo Alves, Wilson Batista, e tantos outros na História da Música Brasileira. 

Este disco que a coleção Nova História da Música Popular Brasileira dedicou a eles, é simplesmente imperdível. Tem Bala com bala; Kid Cavaquinho, Mestre sala dos mares, De frente pro crime, Caça à raposa, Dois pra lá, dois pra cá - sucessos também gravados por Elis Regina -, e uma bela homenagem à Rainha do Chorinho, Ademilde Fonseca, que gravou Títulos de Nobreza, choro em que a letra reúne títulos de choros gravados pela cantora. 

Ponto para a nossa música.




Lembrando Noel Rosa

Noel Rosa continua sendo, apesar de ter morrido tão jovem, com quase 27 anos, o chamado Poeta da Vila deixou uma herança musical fabulosa, mais de duzentas composições, a maioria de excelente qualidade. 

Noel é autor de pérolas como Último desejo; Três apitos; Fita amarela; Você vai se quiser; O orvalho vem caindo; Onde está a honestidade?; Filosofia; João Ninguém, A dama do cabaré; O X do problema; Palpite infeliz, Rapaz folgado; Feitio de oração, estas últimas fizeram parte da famosa polêmica musical com outro sambista imortal, Wilson Batista.