quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Comentário Geral - 300 Discos importantes da Música Brasileira


Depois de uma espera de quase quatro anos adquiri em março de 2012, o livro "300 Discos importantes da Música Brasileira" lançado em 2008 pela editora Cabeça de Dinossauro. A obra, escrita por Charles Gavin; Carlos Calado, Tárik de Souza, Aethur Dapieve, contou com uma minuciosa pesquisa e muito trabalho dos autores, para chegar no formato de livro, com nada menos de 436 páginas, que imita a capa de um Long Play (para quem não conhece, o famoso LP ou disco de vinil). O Comentário Geral desta semana traz informações sobre esta obra preciosa, que ainda traz encartado dois CDs – Moreira da Silva e Elza Soares.

O livro, que traz textos e capas sobre 300 títulos escolhidos e fotos contou com patrocínio da Petrobras, e a organização do material ficou a cargo do músico Charles Gavin, (baterista dos Titãs). 300 Discos pode ser considerado um guia de consulta obrigatório para pesquisadores e amantes da música em geral. Com resenhas dos jornalistas Tárik de Souza, Carlos Calado e Arthur Dapieve, o projeto foi concebido com o objetivo de promover o resgate e a preservação da memória musical do país no campo popular.

Apesar das maravilhas que a obra resgata como discos de Noel Rosa, Dorival,Caymmi, Ary Barroso, Tom Jobim, Cartola, Ataulfo Alves, Chico Buarque, Dolores Duran, Caetano Veloso, Edu Lobo, Luiz Gonzaga, e tantos outros gênios da nossa música, porém nem tudo são flores. Pelo menos em 20% os autores derrapam feio ao incluir nulidades como Tati Quebra Barraco, Raimundos e outras ruindades,que jamais deveriam figurar entre os verdadeiros artistas citados acima. Mas,não é um pecado passivo de excomunhão. De forma alguma, pois os 80% trata de obras realmente importantes.

Mas deixando este detalhe de lado, é um prazer folhear um livro com tamanha qualidade gráfica – parece que estamos manuseando diretamente os LPs reproduzidos em suas mais 400 páginas com fotos e textos sobre a música popular gravada entre 1929 e 2007.  Infelizmente, a maioria dos discos relacionados no livro, está fora de catálogo. 





A comédia Meu passado me condena deveria fazer rir

Realmente, os últimos três anos têm sido das comédias brasileiras, pelo menos no cinema nunca se produziram tantas em tão pouco tempo (a não ser no período das Chanchadas), e tão ruins, apesar do sucesso de algumas destas produções. O gênero comédia romântica movimenta cifras milionárias ao redor do mundo e o motivo é óbvio: Está assim de gente querendo entrar na sala escura para se divertir, sem ter que decifrar nada. Para quem se enquadra neste time hoje, ontem ou sempre, Meu Passado Me Condena, o filme é produção nacional trilhando esse caminho, rodado dentro um navio e durante cerca de três semanas, mais ou menos o tempo da viagem dos protagonistas. Dirigido pela estreante Júlia Rezende e estrelado por Fábio Porchat e Miá Mello, o longa estreou semana passada, mas não traz nada que o público não tenha visto. O humor é o de sempre, ou seja, raso, pouco ou nada engraçado, repetitivo, e além das piadas sem graça, o filme é recheado de clichês.

Baseado no seriado homônimo, exibido no canal Multishow, a história traz os mesmo personagens, Fábio (Fábio Porchat) e Miá (Miá Mello). Eles se conheceram numa festa, se casaram rápido e partiram em lua de mel para a Itália, a bordo de um transatlântico. Mas o que fazer se entre os passageiros estão Beto, um ex-namorado fogoso (Alejandro Claveaux) e uma ex-paixão (Juliana Didone) dos tempos de escola? É o que os dois vão descobrir, uma vez que o risco de "flashback" é grande, pois o tal ex é rico e inteligente, ao contrário do noivo que é mão de vaca e confunde o cineasta Truffaut com chocolates. Para piorar o momento amorzinho da noiva, surge o Cabeça (Raphael Queiroga), amigo de infância daqueles invasivos e cheios de brincadeiras bobas, que costumam ter graça para quem participa, quem já viveu algo parecido ou se deixa levar por bobeiras que não envelhecem. E de fato, algumas fazem rir, mas somente se você forçar bastante, claro.

O filme até tem momentos de acerto, porém, são inegáveis os tropeços, oscilando entre fazer rir e, no máximo, arrancar um sorriso. E aqui a dupla, sem dúvida, funciona quando descamba no tiroteio verborrágico, reproduzindo as discussões sem freios de muitos casais. Pena é ver que pontos engraçados, como medo de navio, hipocondria ou Fábio tirando onda para cima do ex de Miá, tenham ido a pique, porque claramente renderiam mais. 

O roteiro (será que dá para chamar isso de roteiro?) escrito a seis mãos por Tati Bernardi, Leandro Muniz e Patrícia Corso, não passa mesmo de uma colcha de retalhos mal costurada. Tanta gente para escrever dá até para desconfiar. Ao terminar a sessão, a constatação do óbvio chega quase a irritar. Devo ressaltar que muitas pessoas gostaram e até gargalharam durante a projeção. Tive vontade de perguntar por que, no entanto, faltou coragem.
Meu Passado Me Condena parece um filme feito às pressas, desleixado e mal acabado. A trama, completamente sem foco, falha em estabelecer um ritmo, deixando a narrativa truncada. Porchat e Miá improvisam muito, e isso acaba prejudicando a graça e naturalidade. Por exemplo, todos os momentos íntimos são exagerados e forçados, e isso piora quando eles precisam interagir com outras pessoas. Daria para equilibrar melhor estas cenas de confusões e o climinha de romance.

Tudo bem que é o primeiro filme dirigido pela Júlia Rezende - autora do argumento de Meu passado me condena, e atuou como 2ª assistente de Direção do longa De pernas pro ar 2 - mas ela não ousou, a direção é frouxa e nada criativa, de originalidade a produção passou longe, como o diabo fugindo da cruz. Nem mesmo tiveram a capacidade de criar nomes para os personagens, que se chamam – Fábio e Miá. Pois é, os mesmos nomes dos atores protagonistas. Na verdade, a culpa não deve ser jogada nas costas da diretora, pois com atores (atores?) tão fora de controle, fica mesmo difícil entregar um filme, no mínimo, decente.

 Afinal, o "salva-vidas" mesmo é Porchat, que neste ano foi visto em outros dois filmes: Vai que Dá Certo (2.7 milhões de ingressos) e O Concurso (1.3 milhão de espectadores). Produzido pela veterana Mariza Leão (De Pernas pro Ar 2) e dirigido pela estreante (em longas) Julia Rezende, filha da produtora e criadora do seriado, Meu Passado Me Condena pode até causar náuseas nos mais exigentes, mas o tripulante que procura humor leve e descompromissado na sala escura pode embarcar sem medo de enjoo.




Quanto mais música brasileira, melhor

Lembrando João Bosco e Aldir Blanc

João é mineiro. Aldir, carioca da gema. A união do violonista e compositor com o letrista e cronista resultou em uma das maiores e melhores parcerias musicais brasileiras, de todos os tempos. Juntos, Bosco e Aldir são como fogo e pólvora e desta receita explosiva de musicalidade, inspiração, crítica social, ironia e criatividade nasceram belas e extraordinárias composições. Verdadeiras obras primas do nosso cancioneiro. Se eles tivessem composto apenas o samba Incompatibilidade de gênios, já seria o suficiente para inscrever seus nomes ao lado de feras como Noel Rosa, Ataulfo Alves, Wilson Batista, e tantos outros na História da Música Brasileira. 

Este disco que a coleção Nova História da Música Popular Brasileira dedicou a eles, é simplesmente imperdível. Tem Bala com bala; Kid Cavaquinho, Mestre sala dos mares, De frente pro crime, Caça à raposa, Dois pra lá, dois pra cá - sucessos também gravados por Elis Regina -, e uma bela homenagem à Rainha do Chorinho, Ademilde Fonseca, que gravou Títulos de Nobreza, choro em que a letra reúne títulos de choros gravados pela cantora. 

Ponto para a nossa música.




Lembrando Noel Rosa

Noel Rosa continua sendo, apesar de ter morrido tão jovem, com quase 27 anos, o chamado Poeta da Vila deixou uma herança musical fabulosa, mais de duzentas composições, a maioria de excelente qualidade. 

Noel é autor de pérolas como Último desejo; Três apitos; Fita amarela; Você vai se quiser; O orvalho vem caindo; Onde está a honestidade?; Filosofia; João Ninguém, A dama do cabaré; O X do problema; Palpite infeliz, Rapaz folgado; Feitio de oração, estas últimas fizeram parte da famosa polêmica musical com outro sambista imortal, Wilson Batista.




terça-feira, 29 de outubro de 2013


Hoje  é o Dia Nacional do Livro


No Dia Nacional do Livro (29 de outubro), nada melhor que ler um, digo, dois ou mais livros de primeira linha. Dois ótimos exemplos: Divino Cartola, de Denilson Monteiro e a biografia de Dolores Duran - A noite e as canções de uma mulher fascinante, escrita por Rodrigo Faour. 

Dois ótimos livros, dois excelentes escritores, que capricharam nas respectivas pesquisas para entregar aos leitores duas obras essenciais para conhecermos mais sobre a história da nossa música - tão rica, e a trajetória de dois mestres inesquecíveis da letra e da melodia. Cartola, autor de pérolas como As rosas não falam, O mundo é um moinho, Tive, sim, Acontece, Autonomia e tantas outras. E Dolores Duran, cantora e compositora de músicas antológicas: Fim de caso, Castigo, Solidão, Noite de paz, Ideias erradas, A noite do meu bem, apenas para citar algumas. 

Os biógrafos Denilson Monteiro (direita) e Rodrigo Faour, no momento da foto inverteram e um mostrou o livro do outro.





“Meus filhos terão computadores, mas antes terão livros.” - Bill Gates


Livros sempre nos deixam ótimas lembranças, claro, quando o livro é realmente bom, por isso nunca esquecerei o primeiro livro que li em minha vida. As aventuras de Robin Hood, de uma coleção editada pela Abril Cultural. Isso faz muito tempo. Então não parei mais, pois os livros, assim como a música e o cinema, mais que apenas distração, se tornaram paixões permanentes. 

Até hoje ainda guardo o meu primeiro exemplar da coleção Literatura Comentada, a do Chico Buarque - que ganhei de um professor - Depois vieram mais livros desta ótima coleção, que teve quatro fases. Meu primeiro contato com a obra de Nelson Rodrigues, também foi no volume dedicado ao autor de Vestido de noiva na segunda fase da Literatura Comentada, com a capa branca. Nesta época guardava meus livros numa caixa dada por minha mãe. A cada quinze dias era uma luta para meu pai comprar o número seguinte. Depois de adulto ejá trabalhando, consegui comprar os títulos restantes. 

De lá para cá, a coleção cresceu e a cada dia cresce mais um pouco. Muitos livros ficaram pelo caminho, pois se tivesse mantido todos, certamente não haveria mais espaço em casa. Aliás, quando se trata de livros, espaço é sempre um problema. Para mim, um problema delicioso e cuja solução é adquirir mais exemplares e lê-los, relê-los. Como dizem, a vida é breve e ainda há muitas páginas para serem escritas, publicadas e lidas. 

Neste Dia Nacional do Livro aproveito para declarar meu amor aos livros. As biografias, sobre cinema, sobre música, livros de história, livros sobre livros. Feliz Dia Nacional do Livro para todos que reconhecem a importância de um livro. Como disse minha amiga Tina Turvão - "Sou o que sou por causa dos livros que li".











quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Salada de gêneros faz do filme Paranóia uma péssima dieta para o espectador

Tudo o que poderia dar errado nesta produção da Dreamworks, leia-se Steven Spielberg, chamada Paranóia (Disturbia), realmente deu errado. Primeiro pela escolha do diretor, D J Caruso, um dos protegidos de Spielberg, que realmente não tinha como fazer melhor com o material que lhe caiu nas mãos; a mistura de gêneros e a atuação sem carisma do elenco que inclui o astro do momento, Shia LaBeouf (Transformers), Carrie-Ann Moss (que teve dias melhores na trilogia Matrix) e David Morse (pouco à vontade como um vizinho serial killer faz do filme apenas um desfile de clichês manjados pelo público.
Depois da morte do pai num acidente onde sai ileso, o adolescente Kale Brecht (LaBeouf) se transforma. Um ano depois durante uma aula de espanhol, o jovem agride o professor com um soco e acaba condenado a três meses de prisão domiciliar. Apesar das broncas que leva da mães, o rapaz passa seus dias assistindo televisão, fazendo bagunça em seu quarto, conversando ao celular ou horas na internet. Durante uma discussão a mãe (Carrie-Ann Moss) cancela as mordomias e para desespero de Kale, corta fio da TV.

Sem ter o que fazer o jovem passa a espionar os vizinhos com um binóculo. Mas a diversão dura pouco, pois acidentalmente testemunha um assassinato cometido pelo vizinho, um assassino serial vivido por David Morse.

Mas Kale não pode sair de casa senão dispara o alarme do aparelho que o monitora. Claro que ele telefona para policia que envia o oficial responsável pela ronda do quarteirão onde o rapaz mora, que por coincidência é primo do professor que ele agrediu. O policial não acredita em sua história. Azar de Kale e dos amigos que passam a ficar na mira do assassino quando este descobre que está sendo vigiado.

A premissa do longa metragem de D J Caruso nos remete ao clássico do suspense, Janela Indiscreta cuja trama mostra o herói vivido por James Stewart impossibilitado de sair de casa por causa de uma perna quebrada e que testemunha um assassinato – obviamente guardando as medidas proporções. Espero que ninguém me apedreje com a comparação. Claro que filme do mestre Alfred Hitchcock dá um banho neste filmeco que serve apenas como veículo para o novo queridinho de Hollywood e de Spielberg também – Shia LaBeouf que protagonizou a superprodução de Michael Bay, Transformers e ganhou um papel de destaque em Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal interpretando o filho do arqueólogo aventureiro.

Paranóia peca por não se definir quanto ao gênero na tentativa de agradar ao público. Começa como drama ao mostrar o acidente em que morre o pai do protagonista, a revolta do garoto e sua prisão; depois passa para comédia mostrando as peripécias de Kale durante os três meses de prisão domiciliar monitorada pela polícia através de um alarme colocado em sua perna; em seguida vem o suspense quando entra em cena o vizinho psicopata. No final o filme descamba para os clichês habituais do gênero, ou seja, perseguição, violência - mãe, namorada e amigo em perigo, o herói enfrenta o bandido e salva todos garantindo assim um desfecho feliz ao lado da nova namorada.

Se alguém numa locadora ou amigo lhe indicar o filme Paranóia faça um favor a si mesmo e ao seu bolso – ignore a dica, vá para casa, ligue a televisão e assista a mais um capítulo da novela mutante Caminhos do Coração. Não é uma opção melhor, mas pelo menos você não gastou seu suado dinheiro alugando um filme ruim. Quem avisa amigo é.

Humberto Oliveira

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Oscar completa oitenta anos

A cerimônia da 80ª do Oscar realizada na noite de ontem (24) transcorreu sem muitas surpresas no palco do Teatro Kodak em Los Angeles. Este ano a festa teve segunda vez como apresentador, o comediante Jon Stuart. A primeira apresentação foi na cerimônia de 2006. A tradução simultânea foi de Anna Vianna, que substituiu Elizabeth Hart, morta ano passado. No estúdio da Rede Globo, a apresentação ficou a cargo de Maria Beltrão enquanto o ator José Wilker, fazendo pose ao comentar sobre os indicados e ganhadores, comentários em sua maioria inócuos e irrelevantes.

Neste ponto Wilker difere, e muito do crítico Rubens Ewald Filho, um profundo conhecedor de cinema e sua história, e que deve ter deliciado os espectadores que assistiram a cerimônia transmitida pelo canal TNT. Para nós pobres mortais, o jeito foi mesmo acompanhar o Oscar pela Rede Globo que começou atrasada como tem acontecido nos últimos anos por causa do BBB.

Quando finalmente o programa das nulidades terminou, vários prêmios haviam sido anunciados como Figurino para Elizabeth – A Era do ouro (Alexandra Byrne), melhor animação para Ratatouille, de Brad Bird e Chris Buck, maquiagem para Piaf, um hino ao amor (Didier Lavergne e Jan Archibald), efeitos visuais para a fantasia Bússola de ouro (Michael Fink, Bill Westenhofer, Bem Morris e Travor Wood) derrotando produções como Transformers e Piratas do Caribe – No fim do mundo.

Outras premiações que perdemos por causa do atraso foi Direção de arte para o musical dirigido por Tim Burton – Sweeney Todd, o barbeiro demoníaco da Rua Fleet, merecido Oscar para Dante Ferreti (Gangues de Nova York) e Francesca Lo Schiavo.

Como era esperado por nove entre dez cinéfilos de plantão o Oscar de ator coadjuvante acabou nas mãos de Javier Bardem pela sua interpretação de um psicopata no filme dos irmãos Ethan e Joel Coen – Onde os fracos não têm vez. Um Oscar indiscutível. Esperamos que Javier (indicação anterior em 2001 por Antes do amanhecer) res ção para Ratatouile, não tenha a mesma sorte que outros premiados como Joe Pesci, Cuba Junior, Jack Palance ou Benício Del Toro, entre outros cujas carreiras não andaram muito depois da premiação.

Durante a cerimônia foram exibidas cenas em homenagens aos premiados nestes oitenta anos de Oscar nas categorias de filme, diretor, ator, atriz e também coadjuvantes pontuados por depoimentos de entre outros de Steven Spielberg (premiados duas vezes pelos filmes A Lista de Schindler e O resgate do soldado Ryan), Sidney Poitier (Ao mestre com carinho, No calor da noite). Jack Nicholson (vencedor de três Oscar – Um estranho no ninho; Laços de ternura e Melhor é impossível) apresentou um clipe especial com todas as premiações de Oscar de melhor filme desde a primeira cerimônia 1928 com Asas até Os Infiltrados, de Martin Scorsese (2007).

A ganhadora como atriz coadjuvante do ano passado, Jennifer Hudson (Dreamgirls) entregou a premiação para Tilda Swinton (lembram do anjo do filme Constantine?) que ganhou por Conduta de risco. Os Irmãos Ethan e Joel Coen levaram o Oscar de roteiro adaptado por Onde os fracos não têm vez adaptação do livro do escritor americano Cormac MacCarthy, No Country for Old Men. Os Coen ganharam anteriormente pelo roteiro de Fargo. A noite ainda estava começando e prometia ser de inesquecíveis emoções para a dupla de diretores cujo filme recebeu nada menos que oito indicações, incluindo melhor direção e melhor filme.

Como sempre as piadas do apresentador fazem gargalhar apenas o público norte-americano e José Wilker (acha comediante genial), isso sem falar na apresentação das concorrentes da categoria melhor canção. Apesar das três indicadas do filme Encantada, a vencedora foi Falling Slowlly (Glen Hansard e Marketa Irglova) do filme Once. Os números musicais cada vez mais maçantes e cansativos deixam à cerimônia ainda mais longa. Mas isso faz parte do charme da festa. Apenas para registrar – O filme Encantada esteve em cartaz no Cine Veneza há poucos dias e parece que fez sucesso.

Apesar de José Wilker classificar O ultimato Bourne apenas como um filme “barulhento”, a produção dirigida por Paul Greengrass acabou ganhando nas três categorias em que foi indicado, ou seja, edição de som; mixagem de som e montagem. Mesmo que Wilker tenha torcido o nariz para este filme, podemos dizer que a produção estrelada por Matt Damon foi uma das grandes vencedoras da noite.

Assim como na cerimônia de 2007 que todos apostavam que era certo que Ellen Mirren levaria Oscar de melhor atriz por sua atuação em A Rainha também não foi surpresa quando na cerimônia desta noite o prêmio foi para Marion Cotillard que protagonizou o aclamado Piaf, um hino ao amor, onde a atriz interpreta a cantora francesa em todas as fases de sua vida.

O diretor de arte Robert Boyle aos 98 anos dos quais setenta dedicados ao cinema, depois de quatro indicações sem ganhar em nenhuma, recebe o reconhecimento da Academia que lhe dá um Oscar honorário pelo conjunto da obra que inclui filmes do mestre do suspense Alfred Hitchcock entre outros. Recebido com aplausos, o veterano disse “esta é a parte boa de envelhecer (se referindo aos aplausos) não recomendo o resto”.

Penélope Cruz que, ano passado recebeu indicação por Volver, de Pedro Almodóvar, apresentou o Oscar de filme estrangeiro. Para não fugir do óbvio, o Oscar ficou para produção austríaca The Counterfeiters, de Stefan Ruzowtzky cujo tema do filme, baseado em fatos reais versa sobre falsificação de dinheiro por nazistas. Filmes que trazem como tema o Holocausto judeu no período da Segunda Guerra sempre ganham prêmios da Academia. Que o diga Steven Spielberg que ganhou seu primeiro Oscar de diretor pela obra prima A Lista de Schindler.

O filme Sangue Negro que estava bastante cotado pelas oito indicações que recebeu terminou a noite levando apenas duas estatuetas – Melhor fotografia e melhor ator para Daniel Day-Lewis (premiado anteriormente por Meu pé esquerdo). A premiação de Day-Lewis, Oscar mais que merecido, era esperada pela sua brilhante atuação como o ganancioso Daniel Plainview sob a direção de Paul Thomas Anderson. A atriz Cameron Diaz, quando anunciou os indicados para melhor fotografia lembrou que há a setenta e nove anos o filme mudo Aurora, de Murnau (Nosferatu) recebia o primeiro Oscar nesta categoria.

Como tem sido praxe nos últimos trinta anos da cerimônia do Oscar, a Academia reserva um momento para homenagear personalidades do cinema que faleceram. In memorian lembrou nomes como Betty Hutton; Delbert Mann, Bernard Gordon; Debora Kerr; Ingmar Bergman; Michelangelo Antonioni; Robert Clark; Heath Ledger entre outros. Ao final a apresentadora Maria Beltrão homenageou Elizabeth Hart que durante vinte anos fez a tradução das cerimônias do Oscar.

E por falar em Maria Beltrão, a moça deu alguns escorregões durante a sua apresentação. Por exemplo, disse que o ator Heath Ledger morreu ano passado e que ator Sidney Poitier ganhou o Oscar de melhor ator pelo filme Ao mesmo com carinho. Na verdade o ator ganhou por Uma voz nas sombras (1964) e um Oscar honorário em 1992.

Outra produção que recebeu oito indicações, Desejo e reparação, saiu da cerimônia apenas com o Oscar de trilha sonora para Dario Marianelli. Parece que o filme dirigido por Joe Wrigth ficou literalmente a ver navios. Melhor sorte na próxima vez. Outro filme bem cotado, a produção independente Juno foi premiada com o Oscar de melhor roteiro original. A premiação consagra a roteirista de nome exótico, Diablo Cody, que segundo Maria Beltrão, trabalhou como striper. Até parece que isso faz diferença. Pelo menos em Hollywood, não, pois a Academia gosta de premiar pessoas que começam por baixo e conseguem vencer. Basta lembrar a roteirista Callie Khouri que antes de ganhar o Oscar pelo roteiro de Thelma e Louise em 1991, trabalhou durante anos como garçonete.

Os vencedores nas categorias documentário e documentário de curta-metragem respectivamente, Táxi para a escuridão (Taxi to the dark side), de Alex Gibney e Eva Orner sobre torturas feitas por soldados norte americanos no Iraque, e Freeheld, de Cythia Wade e Vanessa Roth, sobre um tema polêmico mostrando a luta de uma militar lésbica que está morrendo de AIDS e quer deixar pensão para sua companheira.

Para encerrar a cerimônia, Martin Scorsese que venceu o Oscar de melhor diretor ano passado por Os Infiltrados anunciou o melhor diretor de 2008. Não foi surpresa para ninguém quando os irmãos Coen foram chamados como vencedores por Onde os fracos não têm vez, sendo esta a primeira vez nos oitenta anos do Oscar que uma dupla de diretores é premiada. Denzel Washington, ignorado pela Academia por sua atuação em O Gângster, de Ridley Scott (também esquecido) anunciou o melhor filme. Quando parecia que Sangue Negro iria arrebatar a estatueta de melhor filme, o western moderno e violento dos irmãos Coen levou a melhor no duelo totalizando quatro Oscars.

Bem amigos por enquanto encerramos a maratona iniciada com a retrospectiva do Oscar (1999 a 2007) completada agora com este artigo sobre a cerimônia do Oscar 2008. Agora é esperar que pelo menos vinte por cento dos filmes indicados ou premiados seja exibido em nossas telas.

Humberto Oliveira