quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Salada de gêneros faz do filme Paranóia uma péssima dieta para o espectador

Tudo o que poderia dar errado nesta produção da Dreamworks, leia-se Steven Spielberg, chamada Paranóia (Disturbia), realmente deu errado. Primeiro pela escolha do diretor, D J Caruso, um dos protegidos de Spielberg, que realmente não tinha como fazer melhor com o material que lhe caiu nas mãos; a mistura de gêneros e a atuação sem carisma do elenco que inclui o astro do momento, Shia LaBeouf (Transformers), Carrie-Ann Moss (que teve dias melhores na trilogia Matrix) e David Morse (pouco à vontade como um vizinho serial killer faz do filme apenas um desfile de clichês manjados pelo público.
Depois da morte do pai num acidente onde sai ileso, o adolescente Kale Brecht (LaBeouf) se transforma. Um ano depois durante uma aula de espanhol, o jovem agride o professor com um soco e acaba condenado a três meses de prisão domiciliar. Apesar das broncas que leva da mães, o rapaz passa seus dias assistindo televisão, fazendo bagunça em seu quarto, conversando ao celular ou horas na internet. Durante uma discussão a mãe (Carrie-Ann Moss) cancela as mordomias e para desespero de Kale, corta fio da TV.

Sem ter o que fazer o jovem passa a espionar os vizinhos com um binóculo. Mas a diversão dura pouco, pois acidentalmente testemunha um assassinato cometido pelo vizinho, um assassino serial vivido por David Morse.

Mas Kale não pode sair de casa senão dispara o alarme do aparelho que o monitora. Claro que ele telefona para policia que envia o oficial responsável pela ronda do quarteirão onde o rapaz mora, que por coincidência é primo do professor que ele agrediu. O policial não acredita em sua história. Azar de Kale e dos amigos que passam a ficar na mira do assassino quando este descobre que está sendo vigiado.

A premissa do longa metragem de D J Caruso nos remete ao clássico do suspense, Janela Indiscreta cuja trama mostra o herói vivido por James Stewart impossibilitado de sair de casa por causa de uma perna quebrada e que testemunha um assassinato – obviamente guardando as medidas proporções. Espero que ninguém me apedreje com a comparação. Claro que filme do mestre Alfred Hitchcock dá um banho neste filmeco que serve apenas como veículo para o novo queridinho de Hollywood e de Spielberg também – Shia LaBeouf que protagonizou a superprodução de Michael Bay, Transformers e ganhou um papel de destaque em Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal interpretando o filho do arqueólogo aventureiro.

Paranóia peca por não se definir quanto ao gênero na tentativa de agradar ao público. Começa como drama ao mostrar o acidente em que morre o pai do protagonista, a revolta do garoto e sua prisão; depois passa para comédia mostrando as peripécias de Kale durante os três meses de prisão domiciliar monitorada pela polícia através de um alarme colocado em sua perna; em seguida vem o suspense quando entra em cena o vizinho psicopata. No final o filme descamba para os clichês habituais do gênero, ou seja, perseguição, violência - mãe, namorada e amigo em perigo, o herói enfrenta o bandido e salva todos garantindo assim um desfecho feliz ao lado da nova namorada.

Se alguém numa locadora ou amigo lhe indicar o filme Paranóia faça um favor a si mesmo e ao seu bolso – ignore a dica, vá para casa, ligue a televisão e assista a mais um capítulo da novela mutante Caminhos do Coração. Não é uma opção melhor, mas pelo menos você não gastou seu suado dinheiro alugando um filme ruim. Quem avisa amigo é.

Humberto Oliveira

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Oscar completa oitenta anos

A cerimônia da 80ª do Oscar realizada na noite de ontem (24) transcorreu sem muitas surpresas no palco do Teatro Kodak em Los Angeles. Este ano a festa teve segunda vez como apresentador, o comediante Jon Stuart. A primeira apresentação foi na cerimônia de 2006. A tradução simultânea foi de Anna Vianna, que substituiu Elizabeth Hart, morta ano passado. No estúdio da Rede Globo, a apresentação ficou a cargo de Maria Beltrão enquanto o ator José Wilker, fazendo pose ao comentar sobre os indicados e ganhadores, comentários em sua maioria inócuos e irrelevantes.

Neste ponto Wilker difere, e muito do crítico Rubens Ewald Filho, um profundo conhecedor de cinema e sua história, e que deve ter deliciado os espectadores que assistiram a cerimônia transmitida pelo canal TNT. Para nós pobres mortais, o jeito foi mesmo acompanhar o Oscar pela Rede Globo que começou atrasada como tem acontecido nos últimos anos por causa do BBB.

Quando finalmente o programa das nulidades terminou, vários prêmios haviam sido anunciados como Figurino para Elizabeth – A Era do ouro (Alexandra Byrne), melhor animação para Ratatouille, de Brad Bird e Chris Buck, maquiagem para Piaf, um hino ao amor (Didier Lavergne e Jan Archibald), efeitos visuais para a fantasia Bússola de ouro (Michael Fink, Bill Westenhofer, Bem Morris e Travor Wood) derrotando produções como Transformers e Piratas do Caribe – No fim do mundo.

Outras premiações que perdemos por causa do atraso foi Direção de arte para o musical dirigido por Tim Burton – Sweeney Todd, o barbeiro demoníaco da Rua Fleet, merecido Oscar para Dante Ferreti (Gangues de Nova York) e Francesca Lo Schiavo.

Como era esperado por nove entre dez cinéfilos de plantão o Oscar de ator coadjuvante acabou nas mãos de Javier Bardem pela sua interpretação de um psicopata no filme dos irmãos Ethan e Joel Coen – Onde os fracos não têm vez. Um Oscar indiscutível. Esperamos que Javier (indicação anterior em 2001 por Antes do amanhecer) res ção para Ratatouile, não tenha a mesma sorte que outros premiados como Joe Pesci, Cuba Junior, Jack Palance ou Benício Del Toro, entre outros cujas carreiras não andaram muito depois da premiação.

Durante a cerimônia foram exibidas cenas em homenagens aos premiados nestes oitenta anos de Oscar nas categorias de filme, diretor, ator, atriz e também coadjuvantes pontuados por depoimentos de entre outros de Steven Spielberg (premiados duas vezes pelos filmes A Lista de Schindler e O resgate do soldado Ryan), Sidney Poitier (Ao mestre com carinho, No calor da noite). Jack Nicholson (vencedor de três Oscar – Um estranho no ninho; Laços de ternura e Melhor é impossível) apresentou um clipe especial com todas as premiações de Oscar de melhor filme desde a primeira cerimônia 1928 com Asas até Os Infiltrados, de Martin Scorsese (2007).

A ganhadora como atriz coadjuvante do ano passado, Jennifer Hudson (Dreamgirls) entregou a premiação para Tilda Swinton (lembram do anjo do filme Constantine?) que ganhou por Conduta de risco. Os Irmãos Ethan e Joel Coen levaram o Oscar de roteiro adaptado por Onde os fracos não têm vez adaptação do livro do escritor americano Cormac MacCarthy, No Country for Old Men. Os Coen ganharam anteriormente pelo roteiro de Fargo. A noite ainda estava começando e prometia ser de inesquecíveis emoções para a dupla de diretores cujo filme recebeu nada menos que oito indicações, incluindo melhor direção e melhor filme.

Como sempre as piadas do apresentador fazem gargalhar apenas o público norte-americano e José Wilker (acha comediante genial), isso sem falar na apresentação das concorrentes da categoria melhor canção. Apesar das três indicadas do filme Encantada, a vencedora foi Falling Slowlly (Glen Hansard e Marketa Irglova) do filme Once. Os números musicais cada vez mais maçantes e cansativos deixam à cerimônia ainda mais longa. Mas isso faz parte do charme da festa. Apenas para registrar – O filme Encantada esteve em cartaz no Cine Veneza há poucos dias e parece que fez sucesso.

Apesar de José Wilker classificar O ultimato Bourne apenas como um filme “barulhento”, a produção dirigida por Paul Greengrass acabou ganhando nas três categorias em que foi indicado, ou seja, edição de som; mixagem de som e montagem. Mesmo que Wilker tenha torcido o nariz para este filme, podemos dizer que a produção estrelada por Matt Damon foi uma das grandes vencedoras da noite.

Assim como na cerimônia de 2007 que todos apostavam que era certo que Ellen Mirren levaria Oscar de melhor atriz por sua atuação em A Rainha também não foi surpresa quando na cerimônia desta noite o prêmio foi para Marion Cotillard que protagonizou o aclamado Piaf, um hino ao amor, onde a atriz interpreta a cantora francesa em todas as fases de sua vida.

O diretor de arte Robert Boyle aos 98 anos dos quais setenta dedicados ao cinema, depois de quatro indicações sem ganhar em nenhuma, recebe o reconhecimento da Academia que lhe dá um Oscar honorário pelo conjunto da obra que inclui filmes do mestre do suspense Alfred Hitchcock entre outros. Recebido com aplausos, o veterano disse “esta é a parte boa de envelhecer (se referindo aos aplausos) não recomendo o resto”.

Penélope Cruz que, ano passado recebeu indicação por Volver, de Pedro Almodóvar, apresentou o Oscar de filme estrangeiro. Para não fugir do óbvio, o Oscar ficou para produção austríaca The Counterfeiters, de Stefan Ruzowtzky cujo tema do filme, baseado em fatos reais versa sobre falsificação de dinheiro por nazistas. Filmes que trazem como tema o Holocausto judeu no período da Segunda Guerra sempre ganham prêmios da Academia. Que o diga Steven Spielberg que ganhou seu primeiro Oscar de diretor pela obra prima A Lista de Schindler.

O filme Sangue Negro que estava bastante cotado pelas oito indicações que recebeu terminou a noite levando apenas duas estatuetas – Melhor fotografia e melhor ator para Daniel Day-Lewis (premiado anteriormente por Meu pé esquerdo). A premiação de Day-Lewis, Oscar mais que merecido, era esperada pela sua brilhante atuação como o ganancioso Daniel Plainview sob a direção de Paul Thomas Anderson. A atriz Cameron Diaz, quando anunciou os indicados para melhor fotografia lembrou que há a setenta e nove anos o filme mudo Aurora, de Murnau (Nosferatu) recebia o primeiro Oscar nesta categoria.

Como tem sido praxe nos últimos trinta anos da cerimônia do Oscar, a Academia reserva um momento para homenagear personalidades do cinema que faleceram. In memorian lembrou nomes como Betty Hutton; Delbert Mann, Bernard Gordon; Debora Kerr; Ingmar Bergman; Michelangelo Antonioni; Robert Clark; Heath Ledger entre outros. Ao final a apresentadora Maria Beltrão homenageou Elizabeth Hart que durante vinte anos fez a tradução das cerimônias do Oscar.

E por falar em Maria Beltrão, a moça deu alguns escorregões durante a sua apresentação. Por exemplo, disse que o ator Heath Ledger morreu ano passado e que ator Sidney Poitier ganhou o Oscar de melhor ator pelo filme Ao mesmo com carinho. Na verdade o ator ganhou por Uma voz nas sombras (1964) e um Oscar honorário em 1992.

Outra produção que recebeu oito indicações, Desejo e reparação, saiu da cerimônia apenas com o Oscar de trilha sonora para Dario Marianelli. Parece que o filme dirigido por Joe Wrigth ficou literalmente a ver navios. Melhor sorte na próxima vez. Outro filme bem cotado, a produção independente Juno foi premiada com o Oscar de melhor roteiro original. A premiação consagra a roteirista de nome exótico, Diablo Cody, que segundo Maria Beltrão, trabalhou como striper. Até parece que isso faz diferença. Pelo menos em Hollywood, não, pois a Academia gosta de premiar pessoas que começam por baixo e conseguem vencer. Basta lembrar a roteirista Callie Khouri que antes de ganhar o Oscar pelo roteiro de Thelma e Louise em 1991, trabalhou durante anos como garçonete.

Os vencedores nas categorias documentário e documentário de curta-metragem respectivamente, Táxi para a escuridão (Taxi to the dark side), de Alex Gibney e Eva Orner sobre torturas feitas por soldados norte americanos no Iraque, e Freeheld, de Cythia Wade e Vanessa Roth, sobre um tema polêmico mostrando a luta de uma militar lésbica que está morrendo de AIDS e quer deixar pensão para sua companheira.

Para encerrar a cerimônia, Martin Scorsese que venceu o Oscar de melhor diretor ano passado por Os Infiltrados anunciou o melhor diretor de 2008. Não foi surpresa para ninguém quando os irmãos Coen foram chamados como vencedores por Onde os fracos não têm vez, sendo esta a primeira vez nos oitenta anos do Oscar que uma dupla de diretores é premiada. Denzel Washington, ignorado pela Academia por sua atuação em O Gângster, de Ridley Scott (também esquecido) anunciou o melhor filme. Quando parecia que Sangue Negro iria arrebatar a estatueta de melhor filme, o western moderno e violento dos irmãos Coen levou a melhor no duelo totalizando quatro Oscars.

Bem amigos por enquanto encerramos a maratona iniciada com a retrospectiva do Oscar (1999 a 2007) completada agora com este artigo sobre a cerimônia do Oscar 2008. Agora é esperar que pelo menos vinte por cento dos filmes indicados ou premiados seja exibido em nossas telas.

Humberto Oliveira
Retrospectiva do Oscar (1999 a 2007)

Este ano a cerimônia da entrega do Oscar que acontece neste domingo (24) comemora sua 80º edição. Nestes oitenta anos de a Academia de Artes e ciências cinematográficas teve muitos acertos, cometeu injustiças, gafes e omissões que, no entanto nunca ofuscaram a festa e não diminuiu seu prestígio como um dos maiores eventos ligados a Sétima Arte. Graças a aura em torno da estatueta dourada chamada Oscar fica cada vez mais difícil diferenciar entre o que é verdade e o que é mito. Considerando que Hollywood vive de produzir estrelas e ilusões isso não deveria causar estranheza.

Mas existem aqueles que vêem nos filmes única e exclusivamente a melhor e mais eficiente forma de escapismo, mesmo que outros tantos, mais sisudos achem que um filme deveria ir mais além e informar e educar. Cinema é indústria e sendo Hollywood a mais rica dessas fábricas de sonhos é natural que seja justamente o Oscar, o prêmio mais almejado por nove entre dez astros e estrelas em cartaz num cinema perto de você.

Nossa proposta é refazer o caminho desde a cerimônia que aconteceu em 1999 até a 79ª realizada ano passado quando finalmente o diretor Martin Scorsese ganhou seu Oscar mesmo que por uma produção menor em sua vasta filmografia. A partir de agora você, caro leitor é meu convidado para esta viagem no túnel do tempo pela história recente do Oscar.

2000
Concorrendo ao Oscar deste ano o público teve um cardápio dos mais variados em matéria de filmes candidatos que abordaram temas como núcleo familiar destruído (Beleza Americana); aborto (Regras da Vida); a condenação do cigarro (O Informante); pena de morte (À espera de um milagre) e ainda um garotinho que podia ver pessoas mortas (Sexto sentido); o bizarro e o insólito (Quero ser John Malkovich) ou ainda preconceito racial e injustiça (Hurricane, o Furacão).
A disputa pelo Oscar de melhor ator foi acirrada entre Denzel Washington, Russel Crowe e Kevin Spacey. O primeiro havia ganhado o Globo de Ouro tornando-se o favorito pela sua atuação como o boxeador Rubin “Hurricane” Carter que teve sua carreira destruída por causa de uma acusação de triplo assassinato e conseqüente condenação a prisão perpétua. Crowe conhecido pelo péssimo gênio e pelo perfeccionismo engordou alguns quilos para encarnar o ex-executivo da indústria tabagista que quebrou o sigilo ao dar uma entrevista bombástica no famoso programa 60 minutos. Mas no caminho de Denzel e Crowe estava Kevin Spacey com sua interpretação em Beleza Americana. Resultado: Spacey levou para casa seu segundo Oscar, sendo o primeiro como ator coadjuvante em Os Suspeitos. O Oscar pode ter ido apenas para as mãos de um indicado, mas o maior vencedor foi mesmo o público brindado por três ótimas atuações.

O Oscar de melhor filme ficou para Beleza Americana, consagrando o estreante Sam Mendes nesta produção de Steven Spielberg.

2001
Foi o ano da consagração de Russel Crowe que perdera no ano anterior para Kevin Spacey. Pela sua atuação no épico dirigido por Ridley Scott, O Gladiador que recebeu indicação, mas não ganhou, Crowe interpreta o general Maximus que depois de ter sua família assassinada e de ter se tornado o gladiador do título vai à busca de vingança. Gladiador foi um grande sucesso, conquistou o público e ganhou o Oscar de melhor filme.

A Academia premiou Júlia Roberts com o Oscar de melhor atriz pela sua atuação em Erin Brockovich, dirigido por Steven Soderbergh que teve duas indicações como melhor diretor, por este filme e também por Traffic filme pela qual ganhou como diretor, Benicio Del Toro ganhou como melhor coadjuvante. Certamente a grande injustiça do ano foi a Academia ter esquecido o sensacional Réquiem para um sonho, de Darren Aranofsky que à época estava cotado para dirigir uma nova adaptação de Batman para o cinema.

O Tigre e o Dragão, filme que mistura fábula, artes marciais e romance concorreu em duas categorias – melhor filme e melhor filme estrangeiro, vencendo nesta categoria consagrando Ang Lee que viria a ganhar um como melhor diretor alguns anos depois pelo polêmico O Segredo de Brokeback Mountain (2006).

2002
O que dizer sobre os indicados a melhor filme neste ano que incluía o sofisticado, mas frio, Assassinato em Gosford Park, de Robert Altman; o drama Entre quatro paredes, dirigido por Todd Field; o musical revisionista Moulin Rouge, de Baz Luhrmann, estrelado e cantado por Nicole Kidman e Ewan McGregor; o épico de Peter Jackson – O Senhor dos Anéis, a sociedade do Anel baseado na obra de J.R.R. Tolkien e por fim Uma mente brilhante, vencedor na categoria melhor filme, a cinebiografia de John Nash dirigida por Ron Howard tendo no elenco Russel Crowe, Ed Harris e Jennifer Connelly, que ganharia o Oscar de atriz coadjuvante e Ron Howard, o de melhor diretor.

Peter Jackson estava apenas no início de jornada pelo mundo da Terra Média e dos Hobbits e como todos sabemos a consagração era apenas uma questão de tempo e de mais dois filmes que completariam a trilogia. Em 2002, Denzel Washington ganharia o segundo Oscar, desta vez como ator no drama policial Dia de Treinamento, mas o ator merecia ter ganhado dois anos antes pela sua atuação no filme de Norman Jewison, Hurricane. Coisas da Academia.

2003
A cerimônia teve de tudo um pouco. O musical Chicago que ganharia o Oscar de melhor filme e Catherine Zeta-Jones também sairia premiada como atriz coadjuvante. O público também teve O Pianista, mais uma produção sobre o Holocausto judeu, desta vez a partir do ponto de vista de Roman Polanski que levarias para casa o Oscar de melhor diretor.

Martin Scorsese marcou presença com o violento, Gangues de Nova York estrelado por Leonardo Di Caprio que retomaria a parceria com o cineasta em mais duas produções (O Aviador e Os Infiltrados). Peter Jackson estava de volta com As Duas Torres que supera em todos os quesitos o primeiro filme da trilogia. O drama As Horas que daria o Oscar de melhor atriz para Nicole Kidman, que no filme (usando nariz postiço) interpreta Virginia Wolf.

Polanski rouba a estatueta de Scorsese. Adrian Brody, protagonista de O Pianista leva o prêmio como melhor ator (um exagero). Brody concorreu com nomes de peso como Jack Nicholson (três Oscar); Daniel Day-Lewis (que ganhou por Meu pé esquerdo); Michael Caine (duas vezes vencedor como coadjuvante em Hannah e suas irmãs e Regras da Vida) e por fim Nicholas Cage (premiado por Despedida em Las Vegas. Como disse acima o Oscar de Brody realmente foi um exagero!

Cidade de Deus, para nossa tristeza ficou de fora, porém muitas surpresas estavam reservadas para o público brasileiro na cerimônia do ano seguinte.

2004
O ano de triunfo para o cinema brasileiro através do sucesso de Cidade de Deus que recebeu nada menos que quatro indicações entre elas, melhor diretor para Fernando Meirelles e ainda fotografia; roteiro adaptado e montagem. Não levou nenhum, mas Meirelles acabou consagrado e consagrando o cinema nacional, a exemplo de Central do Brasil e mais recentemente Tropa de Elite, em Berlim.

O Retorno do Rei, dirigido por Peter Jackson, encerra a famosa e milionária trilogia arrebatando nada menos que onze estatuetas entrando para o seleto clube dos filmes recordes de premiações ao lado de Ben Hur e Titanic. Na verdade o filme de Jackson na tinha concorrentes à altura – Sobre meninos e lobos; Seabiscuit, alma de herói; Mestre dos mares; Encontros e desencontros ficaram a ver navios. Peter Jackson levou Oscar de diretor vencendo medalhões como Clint Eastwood que em 2005 se sairia bem melhor com Menina de Ouro.

2005
A safra deste ano brindou o público com ótimos filmes como o acima citado Menina de ouro que sem dúvida foi o melhor filme do ano. Tivemos Ray, a cinebiografia de Ray Charles dirigida por Taylor Hackford que escalou acertadamente o ator James Foxx para o papel principal. Foxx levou o merecido Oscar de melhor ator para sua estante. Ainda na disputa o singelo Em busca da terra do nunca que rendeu uma indicação para Johnny Depp. Martin Scorsese também marcou presença com O Aviador, uma superprodução estrelada por Leonardo Di Caprio, em seu segundo trabalho sob a direção de Scorsese. Di Caprio demonstrou maturidade e segurança em sua interpretação do milionário excêntrico Howard Hughes.

A noite foi de Menina de Ouro que conquistou o prêmio principal. Eastwood levou mais um Oscar como diretor (em 1992 ganhou por Os Imperdoáveis). Premiados ainda Paul Haggis pelo roteiro adaptado; Morgan Freeman, finalmente premiado, levou a estatueta de ator coadjuvante e Hilary Swank, o de melhor atriz, o segundo de sua carreira (o primeiro foi por Meninos não choram - 1999).

2006
A cerimônia foi de surpresas agradáveis; confirmação de talentos e a consagração de nomes como Paul Haggis (Menina de Ouro) que estreou como diretor em Crash – No limite, Oscar de melhor filme do ano. Na verdade o azarão da noite, mas que merecia ganhar. Crash roubou (no bom sentido) as glórias que todos apostavam estariam reservadas para O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee.

Reconhecimento para o talento de Philip Seymour Hoffman, melhor ator por Capote; George Clooney como ator coadjuvante por Syriana. Inclusive Clooney receberia indicações para o seu segundo filme como diretor – Boa noite e boa sorte, filmado em preto e branco e estrelado por David Strathairn como o jornalista Edward Murrow que na época das caças as bruxas nos Estados Unidos, bateu de frente com o senador Joseph McCarthy.

A Academia, como sempre esquece algum filme ou diretor. Em 2006 não foi diferente. Os cineastas Fernando Meirelles e David Cronemberg que realizaram respectivamente O jardineiro fiel (Raquel Weiz ganhou Oscar de atriz coadjuvante pela sua atuação neste filme) e Marcas da Violência. Ambos os filmes mereciam melhor atenção. Ainda bem que existe o DVD para que o público possa comprovar o quanto as duas obras são ótimas.

2007
Martin Scorsese merecia ter ganhado seu Oscar como diretor desde os anos 80 com a obra prima Touro Indomável ou então nos anos 90 com outra obra prima – Os Bons Companheiros. Mas a caprichosa Academia resolveu premiá-lo justamente por uma obra menor, Os Infiltrados que também ganhou como melhor filme. Claro que o filme tem suas qualidades, porém ficou longe dos filmes citados acima. Scorsese recebeu a estatueta das mãos dos amigos Steve Spielberg e George Lucas. Antes tarde do que nunca. Sem sombra de dúvida a premiação em nada altera a carreira do cineasta de Taxi Driver, Cassino entre tantos outros. Da turma falta apenas Brian De Palma receber a premiação.

Trabalhando pela terceira vez com Scorsese, Leonardo Di Caprio recebeu nomeação para melhor ator. A Academia também deu ao ator mais uma indicação pela sua atuação em Diamante de sangue, de Edward Zwick. Porém o Oscar de ator foi para as mãos de Forest Whitaker por sua atuação em O último Rei da Escócia e o de coadjuvante para o veterano Alan Arkin por Pequena Miss Sunshine. A grande certeza da cerimônia foi mesmo o Oscar de melhor atriz para Helen Mirren por A Rainha.

Neste ano os maiores injustiçados foram os dois filmes dirigidos pro Clint Eastwood: A conquista da honra e Cartas de Iwo Jima. Os dois melhores filmes do ano. Pena que a Academia não quis enxergar o óbvio. Talvez por não querer premiar Eastwood com o terceiro Oscar como diretor. Mistérios.

Bem amigos chegam os ao fim da viagem. Esperamos que tenham gostado. Agora é só esperar domingo quando a cerimônia será transmitida pela Rede Globo, claro que depois do infame BBB. Se você um filme favorito ou ator ou atriz então chegou à hora de torcer.

Humberto Oliveira

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Que seria da música brasileira sem Herivelto e Dalva?

Numa noite de 1992 quando estava em casa assistindo ao Jornal Nacional, nesta época ainda morava em Fortaleza, fui pego de surpresa com a notícia da morte de um dos maiores compositores brasileiros – Herivelto Martins – Confesso que chorei. Recentemente a Editora Globo lançou o livro Minhas duas estrelas, escrito por ninguém menos que Pery Ribeiro, filho de dois monstros da nossa música – o citado Herivelto Martins e da maior interprete de todos os tempos – Dalva de Oliveira. É a história deles que Pery conta no livro.
Pery Ribeiro, que levou nove anos para escrever o livro onde faz uma viagem no tempo de sua infância quando dos seis aos treze anos, sua idade quando seus pais se separaram, viveu o que ele chama de “inferno pessoal” e que segundo Pery levaria anos e muito dinheiro com psicanálise para se recuperar dos traumas profundos vividos naquela época quando presenciava as brigas homéricas dos pais.
Muitas vezes ao chegar em casa perguntava pela mãe ou pelo pai, ouvia dizer que “Herivelto foi pro hospital levar uns pontos na testa por causa de um cinzeiro jogado pela Dalva” ou “a Dalva foi para delegacia por causa de um soco desferido por Herivelto” e assim por diante. Está tudo no livro, que Pery afirma, por sua incompatibilidade com computadores, fora escrito à mão em cinqüenta cadernos.

Claro que o livro conta também as brilhantes carreiras de Herivelto e Dalva. Ele, compositor de clássicos como Ave Maria no morro (Barracão de zinco, sem telhado, sem pintura, lá no morro, barracão é bangalô...), Praça Onze (Vão acabar com a Praça Onze, não haver mais escola de samba, não vai...), Ela, a intérprete de sucessos como Bandeira Branca (Bandeira branca amor, eu peço paz, pela saudade que me invade, eu peço paz), Máscara Negra (Quanto riso, ó quanta alegria, mais de mil palhaços no salão...) e muitos outros que marcaram época.


O talento dos dois é indiscutível, pois até durante a tumultuada separação, a música esteve presente, ora como desabafo, ora como provocação, isso de ambas as partes. Como por exemplo – Dalva canta “Errei sim, manchei o teu nome, mas foste tu mesmo o culpado, deixava-me em casa me trocando pela orgia, faltando sempre com a tua companhia(Errei, sim, de Ataulfo Alves); e Herivelto respondia “Não falem desta mulher perto de mim, não falem pra não lembrar minha dor...E agora em homenagem ao meu fim, não falem dessa mulher perto de mim” (Cabelos brancos, dele em parceria com Marino Pinto), mas Dalva levava corda e retrucava “Desse amor quase tragédia, que me fez um grande mal, finalmente essa comédia, vai chegando ao seu final...Já paguei todos os pecados meus, o meu pranto já caiu demais, só lhe peço pelo amor de Deus, deixe-me viver em paz” (Fim de Comédia, Ataulfo Alves), Herivelto não se conformava e vinha com “Não, eu não posso lembrar que te amei, não eu não posso esquecer que sofri...Caminhemos, quem sabe nos vejamos depois...(Caminhemos).
Dalva de Oliveira então pegava pesado cantando “Que será, da minha vida sem o seu calor, da minha boca sem os beijos seus, da minha alma sem o seu calor...” (Que será, de Rossini Pinto) e assim Herivelto arremata com “Teu mal é comentar o passado, ninguém precisa saber o que houve entre nós dois, o peixe é pro fundo das redes, segredo é pra quatro paredes, não deixe que males pequeninos venham transtornar os nossos destinos...Primeiro é preciso julgar pra depois condenar” (Segredo, outra em parceria com Marino Pinto), por ironia a composição foi gravada pela própria Dalva.

A briga duraria alguns anos e mais algumas composições com o Atiraste uma pedra, Bom dia, Camisola do dia, e contou com a intromissão de outros compositores, entre eles, Ataulfo Alves e Lupícinio Rodrigues, sendo o primeiro a favor de Dalva e o segundo, de Herivelto. Para saber mais sobre esta história leia então Minhas duas estrelas.


Humberto Oliveira

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Avenida Paulista

Depois de LAMPIÃO E MARIA BONITA, a Rede Globo investiu em uma nova minissérie com temáticas urbanas e atuais como (tanto para época quanto para os dias atuais) desvio de dinheiro, corrupção, traições e negociatas. Intitulada AVENIDA PAULISTA, a minissérie escrita a quatro mãos por Daniel Más (Bambolê) e Leilah Assumpção, teve à frente o diretor Walter Avancini, que inaugurava ali seu núcleo de teledramaturgia que ainda produziria GRANDE SERTÃO, VEREDAS; ANASQUISTAS, GRAÇAS À DEUS.

AVENIDA PAULISTA que trazia no elenco Antonio Fagundes, Walmor Chagas, Dina Sfat, Bruna Lombardi, Odilon Wagner entre outros nomes, estreou em 10 de maio de 1982 e o último dos 15 capítulos foi exibido em 28 de maio, sempre no horário das 22 horas.

A minissérie era um drama que tinha como premissa básica a ascensão social e a trajetória de Alex Xavier (Antonio Fagundes), funcionário de um banco que dá um desfalque, porém não vai preso ao ser descoberto e sim promovido pelo dono do banco, Frederico Scorza (Walmor Chagas) que na verdade quer mesmo é usar Alex como testa-de-ferro, responsabilizando o ambicioso rapaz pela falência de umas de suas empresas. Dina Sfat interpreta Paula Alencar, amante e cúmplice do banqueiro. Odilon Wagner é Albino, noivo de Ana Maria, vivida por Bruna Lombardi, filha única de Scorza, que se apaixona por Alex.

Na metade da minissérie, Paula se vê abandonada pelo amante e para se vingar une forças com Alex, porém Scorza é assassinado, recaindo a culpa sobre Alex, no entanto, Paula Alencar é a única pessoa que pode salvar o jovem ambicioso da cadeia, mas no dia do julgamento é acontece surpreendente reviravolta – Paula depõe contra Alex, que acaba preso pelo assassinato do banqueiro.

Nada de extraordinário realmente acontece nesta segunda empreitada da Rede Globo na produção de minisséries, cujo efeito mais imediato foi roubar o lugar reservado aos chamados “enlatados” (forma pejorativa como os seriados norte-americanos eram chamados na época) dando oportunidade de mostrar na televisão, um produto diferenciado dos habituais folhetins diários e que tinham em Janete Clair, Dias Gomes, Cassiano Gabus Mendes e Lauro César Muniz seus maiores expoentes. No entanto, o público não queria mais que isto, ou seja, as tramas de sempre vividas por galãs como Tarcísio Meira e Francisco Cuoco, ou mocinhas como Regina Duarte e Glória Menezes.

AVENIDA PAULISTA marcou a estréia da apresentadora Angélica na televisão. Ela faz Ana Maria quando criança num rápido flashback. A minissérie foi reapresentada em novembro de 1985, no mesmo horário.
Humberto Oliveira
Coleção Nota DEZ

Para os apreciadores da boa música popular brasileira, nada melhor que a coleção Noel Rosa Pela primeira vez. A coleção idealizada por Omar Jubran em parceria com a Funarte, Ministério da Cultura e Universal Discos reúne toda a discografia de Noel Medeiros Rosa, ou simplesmente Noel Rosa, um dos maiores compositores que o Brasil já conheceu.

São 229 gravações em suas versões originais distribuídas por 14 cds e ainda um livreto com as letras de todas as músicas e prefácio de João Máximo, autor da mais completa biografia do compositor.

O Poeta da Vila, como ficou conhecido Noel Rosa nasceu em 1910 e mesmo morrendo jovem, aos 35 anos incompletos em 1937, deixou extraordinária herança musical que influenciaria compositores como Tom Jobim e principalmente Chico Buarque.

Da autoria de Noel Rosa destacamos clássicos como Três apitos, Último desejo, Conversa de botequim, Feitio de oração (em parceria com Vadico), Feitiço da Vila, Palpite infeliz entre outras pérolas valiosas do nosso cancioneiro.

Noel, seja pela primeira ou pela miléssima vez, uma coleção que vale ouro. Nota 10.

Humberto Oliveira
Os 10 Mandamentos em lançamento especial com três DVDS


Para os apreciadores de filmes religiosos épicos, muito em voga nos anos 50, uma ótima pedida é o Box especial do filme Os Dez Mandamentos, superprodução realizada em 1956 por Cecil B. De Mille, que por sinal havia dirigido versão muda do mesmo filme nos anos 20.

Esta é a quarta edição do filme em DVD. A primeira saiu sem extras e sem a versão dublada em português; a segunda trazendo o citado áudio; a terceira edição foi lançada em 2005 com pequenos documentários sobre a produção. Por último esta edição com três discos trazendo tudo que havia nos anteriores incluindo a versão muda do filme.

As duas edições mais recentes trazem extras como os comentários da escritora Katherine Orrison, autora de um livro contando os bastidores do filme. Os comentários são um atrativo à parte e felizmente legendados em português. Traz ainda o trailer do making of de 1956, e seis mini-documentários, todos devidamente legendados. O terceiro disco traz a versão muda de Os Dez Mandamentos.

Durante as filmagens, que duraram cinco anos, De Mille sofreu um enfarte, porém isso não o impediu de retornar ao set para concluir o filme que se tornaria o último de sua carreira. No elenco destaque para Charlton Heston como Moisés, Yul Brinner, Annie Baxter, Edward G. Robinson, John Derek, Vincent Price e muitos outros.

Os Dez Mandamentos, um dos maiores épicos da história do Cinema, possui todas as características de seu diretor: cenários suntuosos; multidões de figurantes; dramaticidade quase teatral, elenco de grandes estrelas, glamouroso, exagerado e poderoso com a capacidade de arrebatar o público com cenas inesquecíveis como a abertura e travessia do Mar Vermelho, o plano geral mostrando milhares de hebreus como escravos trabalhando para erguer o império do faraó, a consumação das pragas que assolam o Egito e ainda quando Deus (voz de Charlton Heston) escreve com fogo os Dez Mandamentos. Espetáculo grandioso e eloqüente deste especialista chamado Cecil B. De Mille.


Um ótimo programa para apreciadores do gênero.



Humberto Oliveira




sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Linha Direta Justiça dá aula de jornalismo investigativo e teledramaturgia

“Quem definirá, um dia, essa maldade obscura e inconsciente das coisas, que inspirou aos gregos a concepção indecisa da Fatalidade?” Esta frase do escritor Euclides da Cunha cabe como uma luva para tentarmos entender a sucessão de acontecimentos trágicos que ocorreram na vida do jornalista e dramaturgo, Nelson Rodrigues, depois do assassinato de seu irmão, Roberto, morto com um tiro em plena redação do jornal Crítica, do pai Mário Rodrigues.

“A Primeira tragédia de Nelson Rodrigues” título para o Linha Direta Justiça levado ao ar pela TV Globo na noite de 7 de junho de 2007, abordando o assassinato do desenhista e jornalista Roberto Rodrigues por Sylvia Seraphim Thibaú que no dia 26 de dezembro de 1929 o alvejou com um tiro de um revólver calibre 22.

A reconstituição de época foi capricihada e chegou a requintes como a presença de Jofre Rodrigues que interpretou ninguém menos que seu pai,Nelson Rodrigues, na fase adulta. Um dos netos de Mário Rodrigues Filho aparece como Nelson jovem. Outros detalhes que podemos destacar – a caracterização de Mário Filho, com suas sobrancelhas e cabelos avermelhados, e ainda a gagueira do implacável proprietário de Crítica, Mário Rodrigues.

O programa contou com os depoimentos de Nelson Rodrigues Filho, do jornalista e escritor Ruy Castro, autor da biografia definitiva de Nelson Rodrigues – O Anjo Pornográfico, do diretor de teatro Caco Coelho, que assumiu o posto deixado por Ruy Castro como organizador da obra não teatral de Nelson publicada pela Companhia das Letras, e também depoimentos de parentes de Sylvia Seraphim.

No momento do disparo fatal, na redação do jornal Crítica, além de Roberto, estava seu irmão mais novo, Nelson, na época com dezessete anos, o redator Carlos Cavalcanti, o auxiliar de redação, Juracy Drummond, e o investigador de policia, Garcia de Almeida, que inclusive foi quem desarmou Sylvia que se resignou a fazer este comentário – “Vim para matar Mário Rodrigues, matei o filho. Estou satisfeita”. Enquanto isso, Nelson tentava ajudar seu irmão que agonizava no chão.

Roberto agonizou durante três dias. Nelson ficou rezando pelo restabelecendo do irmão, mas a medicina em 1929 era muito precária. A bala se alojara na espinha de Roberto que morreria de falência múltipla dos órgãos por causa da Peritonite. A morte do irmão seria fator decisivo na obra do futuro dramaturgo Nelson Rodrigues.

No velório de Roberto, um ensandecido Mário Rodrigues não saía de perto do caixão e falava o tempo todo - “Aquela bala era para mim”. Mário Rodrigues morreria 77 dias depois do filho. Como disse Nelson Rodrigues numa crônica sobre o assassinato do irmão – “de paixão”. Com a perda de dois de seus membros, nunca mais a família Rodrigues seria a mesma. Bastou apenas um tiro deflagrado por Sylvia Seraphim.

O julgamento de Sylvia Seraphim aconteceu em 22 de agosto de 1930, tendo como advogado de defesa, Clóvis Dunshee de Abranges e na promotoria, Max Gomes de Paiva. Sylvia foi absolvida. Os Rodrigues sofreriam, depois das mortes de Roberto e de Mário, mais um duro golpe quando explodiu a revolução de 1930 e Getúlio Vargas ascendeu ao poder. Crítica era um dos jornais dos poucos jornais que faziam campanha contra Getúlio e por isso com a vitória de Vargas, o jornal foi empastelado, invadido e destruído por simpatizantes do novo presidente.

No entanto, o destino da assassina de Roberto Rodrigues também foi trágico. Depois do escândalo, Sylvia, separada do primeiro marido, se envolveu com outro homem. Ficou grávida. Da relação nasceu um menino. Sylvia foi abandonada. Desgostosa, tentou suicídio, mas foi salva e internada. No entanto teria sucesso em sua segunda tentativa.

Linha Direta Justiça, que estreou em 2003, o programa nestes mais de três anos exibiu histórias sobre casos famosos como a “Fera da Penha”; “Irmãos Naves”; ”Zuzu Angel”; “O Crime da Mala”; “Vladimir Herzog”; “Ângela Diniz”; “O desaparecimento do menino Carlinhos” entre tantos outros.

Humberto Oliveira
Perfume, a história de um assassino

Realizado em 2006, esta ótima co-produção alemã, francesa e espanhola, Perfume, a história de um assassino, dirigido por Tom Tykwer, baseado no livro homônimo de Patrick Suskind, acaba de ser lançado em dvd pela Paris Filmes. No elenco, destaque para Ben Whishaw que interpreta Jean Baptiste Grenouille, e ainda Dustin Hoffman (O Júri), como o perfumista, Giuseppe Baldini, e Alan Rickman (Duro de Matar).

O roteiro, escrito a seis mãos por Tykwer, Bernard Eichinger, também produtor do filme, e Andrew Birkin, é bastante fiel ao best-seller de Suskind. A trama se passa na França, século XVIII, onde Jean Baptiste Grenouille, logo ao nascer condena sua mãe a forca com o primeiro grito que dá. Em seguida o menino é levado para um orfanato, onde é quase sufocado em sua primeira noite entre os órfãos maiores.

Aos cinco anos, Jean Baptiste ainda não aprendeu a falar,mas sabe que um menino diferente dos outros. Com treze anos é vendido para o dono de um curtume. Mas a dona do orfanato não tem chance de gastar o dinheiro, pois acaba sendo degolada e roubada. A estimativa de vida no curtume é de cinco anos, mas Jean Baptista sobrevive. Um dia, ao ir para a cidade fazer uma entrega, passar a sentir odores diferentes dos habituais e conhece o perfumista Giuseppe Baldini, que decadente, há anos busca criar um novo perfume que traga de volta seus dias de glória. É então que seu destino se cruza com Grenouille, que graças ao seu talento, e em troca de ensinamentos, desenvolve fórmulas para o perfumista.

Baldini lhe ensina a antiga arte de extrair perfumes de óleos e ervas preciosas. Até que um dia ele sente um cheiro que o levará a um aterrorizante busca pelo perfume mais poderoso do mundo – feito da essência de jovens virgens que passa a assassinar, aterrorizando Paris. Ele, que é um gênio, se torna um monstro, um assassino que vive para detectar qualquer cheiro no planeta, mas ele próprio não exala nenhum odor. A busca de Jean Baptiste pelo perfume perfeito, e tão poderoso que poderia dominar todas as pessoas do mundo, o leva numa jornada de loucura, obsessão e morte.

Com um ótimo elenco de apoio e contando apenas com dois nomes conhecidos do grande público, Hoffman e Rickman, o diretor Tom Tykwer realizou um dos melhores filmes do ano passado, mas que passou quase despercebido nos cinemas (nunca foi exibido em Porto Velho) talvez graças à ambientação que retrata, de forma realista, uma Paris repleta de pessoas que se amontoam pelas ruas, das péssimas condições de higiene em que a população vivia, em pleno século XVIII.

O filme, inegavelmente tem qualidades - a caprichada reconstituição de época, ótimas interpretações, roteiro bem escrito, direção segura, que apesar da reverência ao livro, não apenas para exageros nas cenas de assassinato, quando tudo é mais sugerido que mostrado, assim como o erotismo que domina a história do começo ao fim, culminando na orgia no epílogo do filme.

Humberto Oliveira

Noel Rosa, multimídia setentão

Ninguém em tão pouco tempo de vida, produziu tanto e com tal talento. Poeta irretocável, melodista inspirado, cronista de costumes, sua obra é exemplo e inspiração para quem pretenda fazer música popular no Brasil.

Em comemoração aos seus 100 anos, a gravadora EMI, lançou em cd a coleção 10 polegadas, incluindo o disco onde estão as gravações do LP Polêmica gravado em 1956 com as interpretações de Roberto Paiva e Francisco Egídio. No LP estão Lenço no pescoço, Mocinho da Vila, Frankenstein da Vila, Conversa fiada e Terra de cego, de Wilson Batista, e Rapaz folgado, Palpite infeliz, Feitiço da Vila, e João Ninguém, de Noel, mas a última composição de Noel Rosa que encerrou a polêmica com o samba, Deixa de ser convencido.

Noel, o Poeta da Vila, é o título da cinebiografia do sambista Noel Rosa (1910 -1937) dirigida pelo cineasta Ricardo Van Steen, que levou cerca de dez anos para terminar o projeto do filme, mas a espera valeu a pena, o longa-metragem foi premiado na Mostra de Cinema de Tiradentes, Minas Gerais, que aconteceu em fevereiro deste ano.

O filme mostra o encontro de Noel, interpretado pelo ator Rafael Raposo, com o sambista Ismael Silva, que leva Noel para o morro onde é apresentado a turma do samba. Outras passagens importantes do filme, a polêmica musical entre Noel e Wilson Batista, e ainda o triângulo amoroso que Noel viveu com sua mulher, Lindaura, vivida pela atriz Lidiane Borges e sua grande paixão, a dançarina Ceci, interpretada por Camila Pitanga, para Ceci, Noel compôs o antológico Último desejo, e além dessa música, outras vinte e nove de Noel estão no filme, que teve orçamento de R$ 4,5 milhões. O diretor pretende lançar o filme em circuito nacional em maio, quando se comemora os 70 anos de morte do compositor.

Em 1991 foi lançado o songbook Noel, idealizado e produzido por Almir Chediak. O cd traz vinte e duas faixas como Três apitos, por Tom Jobim; Tarzan, o filho do alfaiate, com Djavan; Último desejo, interpretada por Gal Costa; Pela décima vez, na voz de Nelson Gonçalves. Chediak reuniu um time de primeira, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jards Macalé, Chico Buarque, Ney Matogrosso, João Nogueira, Os Cariocas entre outros.

A coleção Noel pela primeira vez (2000), projeto idealizado por Omar Abu Chahla Jubran e lançado pela Funarte. São 229 gravações em versões originais reunidas em sete cds duplos, encarte com 160 páginas, fotos, registros discográficos em ordem cronológica.

No tempo de Noel Rosa, de Henrique Foréis Domingues, mais conhecido por Almirante, a maior patente do rádio. Editora Francisco Alves lançou a primeira edição do livro em 1963.

Em 1990, para comemorar os oitenta anos de nascimento de Noel Rosa, o historiador João Máximo e o músico, Carlos Didier, lançam a biografia definitiva de Noel Rosa, uma biografia, que 17 anos depois serviria de base para o filme Noel, Poeta da Vila.

Esta biografia levou sete anos para ser escrita, opta por contar a história de Noel Rosa, sua época, sua gente e sua obra, numa narrativa linear, cronológica e jornalista num total de 46 capítulos, abrangendo desde o período de 1834, contando as origens da família do compositor indo até 1937, ano da morte de Noel Rosa.

Em 2003 a editora Nova Alexandria lança a coleção Jovens sem fronteiras. Um dos títulos desta coleção ficou a cargo de Guca Domenico que escreveu O Jovem Noel Rosa, enfocando a fase dos quinze aos vinte anos da vida do Poeta da Vila, um relato fascinante sobre as privações da infância, dos conflitos da vida escolar, dos percalços da adolescência das tragédias familiares, da amizade com Cartola, Braguinha e Almirante e da vontade de seguir a carreira musical.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Chega ao fim jornada de Jason Bourne

Depois de amargar uma espera de duas semanas consegui locar o DVD do filme O Ultimato Bourne, longa metragem que encerra a trilogia Bourne inspirada no personagem criado pelo escritor Robert Ludlum. O longa metragem consagra definitivamente o diretor Paul Greengrass, o ator Matt Damon, protagonista dos três filmes, e a franquia que neste terceiro episódio revela as origens de Jason Bourne, sua verdadeira identidade e as conseqüências dessas descobertas para organização que o criou.

O competente Paul Greengrass, o mesmo dos ótimos, Domingo sangrento, Vôo United 93 e Supremacia Bourne, filme anterior da franquia, mais uma vez utiliza movimentos e anglos de câmera inusitados, câmera na mão e absolutamente nada de efeitos digitais nas cenas espetaculares de perseguição pelas ruas do Marrocos, Nova York, Paris e Londres, inclusive filmando nas estações de trens misturando os atores em meio à multidão imprimindo mais realismo às cenas.

O filme ganha muito graças à forma peculiar de filmar do cineasta inglês, um roteiro ágil e o desempenho cada vez melhor de Matt Demon. Por exemplo, as lutas continuam muito bem coreografadas. A câmera mostra nas seqüências de ação, closes de Demon para que o público saiba que é ele mesmo fazendo a cena e não um dublê. Claro que nas cenas mais perigosas como perseguições automobilísticas, batidas e capotagens, o diretor convoca os dublês.

O primeiro filme da trilogia, Identidade Bourne (2002), teve na direção Doug Liman (Sr e Sra Smith) que apesar do sucesso da produção perdeu o posto para o inglês Paul Greengrass, consagrado com uma indicação ao Oscar de direção ano passado pelo citado Vôo United 93, escalado para dirigir A Supremacia Bourne (2004) que também fez sucesso, garantindo um terceiro filme, este Ultimato Bourne com Greengrass assumindo mais uma vez a cadeira de diretor.

Ultimato Bourne encerra a trilogia, porém isso não significa que Jason Bourne não voltará um dia para enfrentar novos ou velhos inimigos. Os fãs aguardam ansiosos.

Os três filmes estão disponíveis em DVD. A título de curiosidade existe também disponível um telefilme produzido em 1988 intitulado Identidade Bourne primeira adaptação do livro de Robert Ludlum e protagonizado por ninguém menos que Richard Chamberlain, o padre Ralph da série Pássaros Feridos.
Humberto Oliveira
A volta do Cine Veneza

Há alguns meses o glorioso Cine Veneza fechou abruptamente suas portas nos pegando de surpresa e deixando milhares de cinéfilos abandonados. E da mesma forma que fechou, diga-se passagem para reformas e ampliação, sem aviso prévio, o Cine Veneza reabre para o público nesta sexta-feira (25).

O filme escolhido para a grande reabertura é o arrasa-quarteirão protagonizado pelo astro Will Smith – Eu sou a lenda – que estava em cartaz no Cine Rio. Acho uma pena que depois de tantos meses fechados a sala de exibição reabre com oferecendo ao público um filme que havia estreado semana passada. Uma pergunta fica no ar: por que não trazer um filme como A Lenda do tesouro perdido – O livro dos segredos com Nicholas Cage ou O Gângster, novo trabalho do diretor Ridley Scott?

O mais importante é que a partir de agora podemos seguir nossas vidas de novo, pois Cine Veneza está de volta como se em momento algum tivesse fechado. Pois é isso mesmo que parece. Ficamos pensando ou imaginando que faz apenas uma semana que outro filme acabou de sair de cartaz para dar lugar a Eu sou a lenda.

O que queremos dizer é que ficamos felizes com este retorno. Esperamos que tal fenômeno nunca mais ocorra para não nos sentirmos abandonados, órfãos ou até desprestigiados. Resta então apenas dizer – Seja bem vindo de volta Cine Veneza e que em 2008 possamos ter a oportunidade de assistir aos filmes do Oscar, vencedores ou não, a volta do velho e bom Indiana Jones em sua quarta aventura, o retorno do Cavaleiro das Trevas que desta vez enfrenta um novo Coringa e até mesmo que tenhamos a sorte de vibrar com o Homem de Ferro, O Incrível Hulk e muitos outros filmes que aguardamos ansiosos assim como aguardamos a reabertura deste cinema.

Boa diversão

Humberto Oliveira
Eu sou a lenda ou Eu sou o tédio

A primeira super produção a chegar a Porto Velho em 2008, Eu sou a lenda (I Am Legend, 2007) em cartaz desde a última sexta-feira (18) não me decepcionou. Não afirmo isso no bom sentido, muito pelo contrário. O longa metragem estrelado, literalmente, de ponta a ponta por Will Smith, impressionantemente contido, nada acrescenta as outras duas versões produzidas em 1964 e 1971, a não ser as impressionantes seqüências mostrando a devastação de Manhattan.

Na primeira cena do filme uma pequena participação da atriz Emma Thompson interpretando a médica Alice Krippin que está na televisão anunciando a descoberta de uma vacina capaz até de curar câncer. Três anos se passaram e vemos que algo deu errado. Ruas vazias tomadas pelo mato, prédios e carros abandonados. No meio da desolação apenas o tenente coronel e médico Robert Neville (Smith) único sobrevivente ao ataque mortal de um vírus chamado “Krippin” que dizimou a população. Nesta versão nova versão que custou mais de 150 milhões de dólares, ao contrário das anteriores, o Neville vivido por Will Smith não caça as pessoas infectadas que se transformaram em perigosas criaturas sedentas de sangue, e tenta a todo custo encontrar uma cura.

Neville passa seus dias enviando mensagens de rádio para outros improváveis sobreviventes e imunes ao vírus como ele ou então vagando pelas ruas desertas tendo apenas a companhia de uma cadela chamada Sam. Juntos vivem escondidos numa mansão onde o protagonista residia com a mulher e a filha que, são mostradas apenas em rápidos flashbacks.

Dirigido pelo cineasta Francis Lawrence, o mesmo do irregular Constantine, este Eu sou a lenda peca por manter a personagem central muito tempo sozinha na tela. Faz lembrar a personagem de Tom Hanks em Náufrago que também passa quase todo o filme sozinho e tendo apenas a companhia de uma bola que ele passa a chamar de Wilson. E a presença insossa da atriz Alice Braga nada acrescenta a trama que na meia hora final recebe uma dose de adrenalina quando os infectados descobrem onde Neville está escondido e atacam furiosamente.

Outro ponto decepcionante do filme são os humanos transformados em monstros criados digitalmente e nada realistas. Talvez por isso o diretor adie o quanto pode mostrar os monstros para o público que, pode até incorrer no erro de que a demora é para aumentar o suspense. O primeiro confronto se dá quando Sam entra num prédio às escuras e Neville vai procurá-lo, no entanto se depara com as criaturas prontas para atacar. Verdade seja dita Will Smith carrega o filme nas costas.

A interpretação de Will Smith salva Eu sou a lenda e faz valer o ingresso. Pouco a pouco percebemos que ele perde a sanidade. A obsessão em encontrar a cura, os diálogos que mantém com os manequins que, foram colocados nas calçadas e lojas por ele, as idas e vindas a uma locadora de vídeo onde Neville freqüenta e cujos DVDs, seu preferido é Shrek, assiste em ordem alfabética. O grande mérito de Smith é a força como mostra a angustia, solidão e isolamento da personagem.

Não vou aqui revelar o desfecho do filme, no entanto para quem conhece as outras versões (Mortos que matam e A última esperança da terra) Eu sou lenda apesar de bem produzido não apresenta nenhuma surpresa. Inclusive à saída do cinema ouvi comentários do tipo – “Esperava mais do filme” ou “Ainda bem que é curto”. Por estas e outras que Eu sou a lenda deveria se chamar “Eu sou o tédio”.

Humberto Oliveira
Eu sou a lenda estréia em Porto Velho

Estréia nesta sexta-feira (18) no Cine Rio (19h00 e 21h00) a superprodução estrelada pelo astro Will Smith. Trata-se de Eu sou a lenda (I Am Legend, 2007) dirigida por Francis Lawrence (Constantine) com roteiro escrito a quatro mãos por Akiva Goldsman (Uma mente brilhante) e Mark Protosevich roteirista da versão para cinema do personagem dos quadrinhos Thor, filme com estréia prevista apenas para 2009.

No elenco de Eu sou a lenda, além de Will Smith, acostumado a salvar a humanidade da destruição e estrela absoluta do filme, a presença da brasileira Alice Braga (Cidade de Deus, Cidade baixa) fazendo sua estréia numa produção hollywoodiana e seguindo os passos da tia famosa. Ninguém menos que Sônia Braga.

Tendo como cenário uma Nova York devastada, a trama gira em torno do cientista Robert Neville (Smith) que tenta conter um vírus mortífero que acaba por transformar suas vítimas em criaturas mutantes e assassinas. Neville, de alguma forma imune ao vírus, por três anos envia mensagens de rádio diariamente na esperança de encontrar outros sobreviventes como ele. Mas os infectados estão à espreita e prontos para matá-lo, pois para estas criaturas Neville é o verdadeiro monstro.

O filme é a segunda refilmagem de Mortos que matam (The Last Man on Earth, 1964) baseado no livro de Richard Matheson e estrelada por Vicent Price. A mesma história ganharia uma nova versão em 1971 - A Última Esperança da Terra (The Omega Man) desta vez estrelada por Charlton Heston como Dr. Robert Neville. Eu sou a lenda é apenas mais um sintoma do revisionismo de Hollywood que, atualmente passa por uma crise causada pela greve de roteirista que dura desde o final do ano passado.

O escritor Richard Matheson também teve adaptadas para o cinema outras histórias de sua autoria como Encurralado, filme que marcou a estréia de Steven Spielberg na direção de longas metragens. Outras produções de destaque são Em algum lugar do passado (1980) estrelado por Christopher Reeve e Jane Seymour, Amor além da vida (1998) com Robin Williams e Annabella Sciorra entre outros títulos, incluindo episódios da cultuada série Além da Imaginação.

Boa diversão.

Humberto Oliveira

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Todos os anos é assim mesmo. Não adiante reclamar. Se foram exibidos filmes ruins claro que também algumas produções que não se enquadram na categoria dos melhores mas que por outro lado puderam saciar um pouco a fome e a de boa diversão ou diversão razoável dos cinéfilos de plantão.

Em 2007 o público vibrou e Micheal Bay e Steven Spielberg ficaram alguns milhões mais ricos com o sucesso estrondoso de Transformers. Segundo o crítico Rubens Ewald Filho “o filme mais divertido do ano”. Pode até ter sido, mas se tivesse quarenta minutos a menos certamente seria melhor. Assim com é certo o sol nascer e se pôr todos os dias, a continuação está sendo planejada. Os Autobots e os Decepticons ainda vão se enfrentar muito na tela grande. Mas nem só de efeitos mirabolantes e cenas barulhentas o cinema respirou em 2007. Vale lembrar o irregular Uma noite no museu. Apesar das presenças de Ben Stiller, Owen Wilson e Robin Williams até que dá para assistir. Outro filme que o público gostou muito foi o singelo e açucarado Letra e Música estrelado por Hugh Grant, mais uma vez interpretando ele mesmo e Drew Barrymore, louquinha para ganhar mais dólares numa nova seqüência de As Panteras! Letra e música vale mesmo pela trilha sonora.

Até Sylvester Stallone resolveu trazer de volta seu lutador Rock no emocional Rock Balboa para um acerto de contas. O filme não é ruim, mas o resultado fez com que Sly ressuscitasse ninguém menos que John Rambo para Rambo IV! Credo. Daqui a pouco até Chuck Norris vai fazer um Bradock 4 – o retorno. Em Hollywood tudo é possível. Depois do sucesso da trilogia Senhor dos Anéis começaram a pipocar produções tendo a fantasia e mundos de contos de fadas como Aragon, Crônicas de Nárnia, e sendo os mais recentes Stardust mistério da estrela, de Matthew Vaughn e A Bússola de Ouro estrelado por Nichole Kidman e Daniel Craig. Este último está em cartaz no Cine Rio desde o dia 25 de dezembro e pelo visto vai longe!

Astros como Hugh Jackman e Edward Norton foram protagonistas de dois filmes abordando o mesmo tema, ou seja, os bastidores da mágica. Mas existem diferenças entre os dois filmes. Jackman enfrentava o rival vivido por Christian Bale na superprodução O Grande truque, dirigido por Chris Nolan (Batman Begins) e Norton estrelou O Ilusionista, que apesar de uma produção modéstia tem uma história melhor que o concorrente. Vale à pena assistir os dois filmes para que o espectador tire suas conclusões. Garantido mesmo são as surpresas e reviravoltas. A ficção cientifica teve seu representante na produção Sunshine – alerta solar, dirigida por Danny Boyle que abordou um tema explorado em muitos outros filmes onde a terra está em perigo seja pela extinção do sol, caso do filme de Boyle, ou meteoro em direção a terra como em Impacto profundo e Armagedon. Podemos citar ainda O Núcleo, O dia depois de amanhã, e Independence Day.

Não podemos deixar de citar as duas melhores animações do ano – o tão esperado longa metragem Os Simpsons, o filme que chega as telas depois de 18 temporadas na TV norte americana com sucesso. A melhor animação do ano ficou mesmo para Ratatouille, dirigido por Brad Bird (Os Incríveis) e co-dirigido por Jan Pinkava.



quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O ano que passou realmente o que não faltou filmes ruins e como o preço do ingresso está muito caro temos mesmo é que passar à limpo e detonar as bombas que explodiram nas telas!


Quanto menos filmes exibidos fica mais difícil relacionar os piores de 2007 na capital. Mas quando se trata de Nicholas Cage até que a missão se torna menos árdua de cumprir. Cage protagonizou dois dos piores filmes do ano – O Motoqueiro fantasma, mais uma adaptação de um personagem de revistas em quadrinhos e ainda O Vidente. O primeiro ainda se salva por alguns bons efeitos especiais, mas no segundo realmente nada escapa. Nesse Cage interpreta um mágico que descobre ter o dom de prever alguns minutos no futuro. Em ambos os filmes ele está mais canastrão que nunca. E pensar que Cage até já ganhou um Oscar de melhor ator por Despedida em Las Vegas. Daqui a pouco ele será lembrado apenas como o sobrinho de Francis Ford Coppola!

Felizmente o Motoqueiro Fantasma não está sozinho na lista das mais fracas adaptações de personagens dos quadrinhos para o cinema. Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado não fica muito atrás nos quesitos roteiro fraco e bons efeitos especiais. Itens que não suficientes para salvar um filme. Ainda sob a batuta do mesmo diretor do primeiro filme, Tim Story, pouca coisa (perdão pelo trocadilho) escapa. Vale a pena pelo Surfista Prateado que merecia aparecer mais. Quem sabe no próximo filme eles encontrem um vilão melhor que Dr. Destino que nos dois filmes não disse a que veio. Uma pena


Nem Tony Shalhoub, o Monk do seriado homônimo salva este pseudo filme de terror e suspense baseado numa história de Stephen King - 1408, dirigido por Mikael Håfström. O filme conta ainda com John Cusack, que há muito tempo está devendo uma boa atuação e Samuel L. Jackson, ambos certamente deveriam estar com algumas contas atrasadas para aceitar participar deste filme que chega a lembrar um pouco O Iluminado, de Stanley Kubrick, também baseado em livro de King e que se passa num hotel possuído. Em 1408 a ação se passa num quarto.


A Estranha perfeita é outro filme da lista dos piores do ano. Estrelado por Bruce Wills que divide as cenas com Halle Berry, que tem em seu currículo, entre outros, os três filmes da bem sucedida franquia X-Men, onde interpreta Tempestade, o Oscar de melhor atriz pelo ótimo A última ceia, porém de lá para cá a atriz ainda não acertou a mão. Dirigido por James Foley, cineasta que nos anos 1980 e 90 dirigiu bons filmes e que agora está com a carreira decadente. Uma pena.

Nem mesmo Jim Carrey poderia salvar este A volta do Todo Poderoso, continuação de O Todo Poderoso estrelado por Carrey também dirigido por Tom Shadyac que escalou Steve Carell para a continuação. Carell interpreta o mesmo personagem do primeiro filme. Desta vez Evan (Carell) acaba de se tornar deputado e no primeiro dia de trabalho Deus aparece e pede que Evan construa uma nova arca, como a de Noé. Deus continua sendo interpretado por Morgan Freeman, sem dúvida o melhor do filme. A volta do Todo Poderoso se insere na categoria de filmes que não precisavam ser feitos.

Certamente Mark Wahlberg, apesar de não ser um ator tão bom, não tinha porque entrar nesta barca furada chamada O Atirador cuja trama recheada de clichês do gênero - Depois de causar a morte de um inocente, Bob Lee Swagger (Mark Wahlberg), um exímio atirador, isola-se nas florestas do Arkansas. Algum tempo depois, ele é persuadido por seus ex-parceiros a ajudá-los a impedir o assassinato do presidente. Mas ele acaba sendo enganado e acusado de ter planejado o crime. Agora, Bob terá de encontrar o verdadeiro assassino e desmascarar a farsa. Certamente você já viu este filme – Procurado; Sentinela; Tempo esgotado e também na série 24 Horas entre outros – A direção ficou a cargo de Antoine Fuqua, o mesmo de Dia de Treinamento e Lágrimas do Sol. Ainda no elenco de Atirador, Danny Glover, bem distante do sucesso de Máquina Mortífera.

Tudo nesse filme é ruim – a história, os atores e a direção. Tão ruim é o filme que nem vale à pena fazer comentários. Basta dizer que Luzes do além é uma espécie de continuação caça níqueis do igualmente rum Vozes do além, com Michael Keaton. Lembram dele? Pois é, ele já foi o Homem Morcego nas superproduções dirigidas por Tim BurtonBatman e ainda a continuação, Batman, o retorno. Outra grande bomba do ano foi este As tartarugas ninjas, o retorno. Inacreditável que esta porcaria tenha conseguido arrebanhar público suficiente para pagar a produção. Desperdício de tempo e dinheiro, mas certamente muitos incautos assistiram. Esta animação das conhecidas “tartarugas mutantes” vale apenas por ter sido o último trabalho do ator Mako (Conan, o bárbaro) que dublou a voz do mentor dos heróis – Mestre Splinter.

Milla Jovovich continua sua cruzada interminável no Resident Evil 3, contra os zumbis assassinos criados pelo vírus mortal T-Vírus e tentando derrubar a liderança da Corporação Umbrella. Sob a batuta de Russell Mulcahy, de Highlander, o guerreiro imortal, cuja carreira decaiu muito nos últimos anos. Recomendado apenas para fãs fanáticos do gênero podreira.
2007 não foi um ano bom para os cinéfilos de Porto Velho. Basta lembrar que o Cine Brasil fechou em outubro por causa da pirataria. O citado cinema bem ou mal tinha seus atrativos como o preço acessível e sempre contava com três filmes em cartaz. O Cine Veneza continua fechado para reformas. Sobrou apenas o Cine Rio que, serve apenas para reunir jovens barulhentos que pouco se importam com o público que foi ali para assistir o filme. Mas o assunto aqui são os melhores e piores filmes exibidos no ano passado em nossas escassas salas de cinema

Finalmente Martin Scorsese ganhou seu Oscar de Melhor diretor com Os Infiltrados, mas o prêmio deveria ter sido ganho há muito tempo quando dirigiu Os Bons Companheiros, porém acabou vencendo por um filme menor em sua filmografia e ainda por cima uma refilmagem. Coisas da Academia. Adiante.

Scorsese ganhou pelo violento Os Infiltrados, estrelado por Leonardo de Caprio que, aliás, protagonizou outro filme que concorreu ao Oscar – Diamante de sangue – dirigido por Edward Zwick, o mesmo de O último samurai. Di Caprio teve indicações para os dois filmes – melhor ator pelo primeiro e ator coadjuvante pelo segundo. Não ganhou.

O vencedor como ator foi Forrest Whitaker pela sua atuação no filme O último rei da Escócia, filme não exibido em Porto Velho. No entanto o público local teve a chance de assistir a atuação da ganhadora do Oscar de melhor atriz – Hellen Mirren – em A Rainha, de Stephen Frears.
O excelente Labirinto do Fauno, que também só pôde ser visto em DVD, traz a assinatura do diretor Guilhermo Del Toro (Blade II e Hellboy) que conquistou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Para encerrar esta parte não poderia de citar dois ótimos filmes que também não chegaram as nossas telas: A conquista da honra e Cartas de Iwo Jima, ambos dirigidos pelo veterano Clint Eastwood e produzidos por ninguém menos que Steven Spielberg. Que dupla! Os dois filmes estão disponíveis em DVD, assim como os citados acima.